Foto e editorial (clique duas vezes com o lado esquerdo do rato sobre ambas as coisas para as ampliar) do semanário "Domingo" de hoje, p. 2. Naturalmente que estamos perante uma condenação legítima, quão legítimo é o pedido de criminalização dos linchadores. Porém, é pena que poucos de nós possamos ter acesso a dois documentos fundamentais para análise do fenómeno: (1) a um relatório da ACIPOL (Academia de Ciências Policiais), datado de 2007, que analisa os linchamentos no quadro geral de avaliação do desempenho do policiamento comunitário e expõe as percepções de muitas pessoas sobre, por exemplo, a polícia; (2) especialmente, a um excepcional estudo, com data de 14 de Março deste ano, com o título "Pesquisa de campo sobre factores de linchamento nas províncias de Manica e Sofala", efectuado pelo Comando Geral da Polícia. Esses dois documentos e, repito, muito especialmente o segundo, mostram-nos uma realidade que exige muito mais do que a simples condenação (legítima) dos linchamentos. Mais: o segundo documento aponta, por exemplo, para as consequências sociais que podem advir no caso do que os pesquisadores chamaram "detenção emocional de presumíveis linchadores", face à assunção colectiva do acto linchatório pelos "grupos de vizinhança". O problema, afinal, reside na dificuldade de irmos para além da condenação (aqui e em outros campos), interrogando o social o mais profundamente possível para restringirmos, de forma o mais eficaz possível, o crime colectivo e hediondo que o linchamento corporiza, por exemplo, no Brasil, na Tanzania, na África do Sul, na Guatemala, na Bolívia e em Moçambique. O problema está em, séria e honestamente, interrogar-nos sobre e estudarmos as razões por que, como sublinha o semanário "Domingo", os linchamentos "estão a tornar-se numa característica moçambicana" (o que é, afinal, rigorosamente falso), se quisermos evitar resvalar para a concepção inadmissível de que Moçambique produz seres irracionais, tomados pelos "instintos mais primários e brutais". Só resta acrescentar que é falso afirmar que "não se vê interesse efectivo no respectivo combate". Os dois relatórios que mencionei são a prova inequívoca de que o interesse existe. Uma vez mais, felicito a polícia pelo trabalho que está a realizar na pesquisa dos factores à retaguarda dos linchamentos.
Adenda: tenho para mim que o fenómeno dos linchamentos tem a ver com um agregado de factores e com um clímax em alguns centros urbanos do país, que vai, portanto, muito para além da presença, da ausência ou da ineficiência da polícia. Em tempo devido mostrarei por quê.
Sem comentários:
Enviar um comentário