Quando os acordos gerais de paz são assinados em 1992 e, por consequência, se põe formalmente término a uma sangrenta guerra civil, o nosso povo respira de alívio.
Mas é um povo entalado entre os espíritos do passado e as exigências do futuro, entre um passado doloroso que criou raízes nas almas (de medo, de agressividade) e os imperativos de um novo tipo de sociedade, não mais uma sociedade do tipo socialista, mas uma sociedade capitalista, uma sociedade de desigualdades, uma sociedade do have lunch or be lunch.
É nos anos 90 que os chapas começam a ocupar de forma permanente o imaginário dos transportes dos citadinos, especialmente em Maputo. É nesse período que se tornam menos impositivas as regras de circulação, o controlo político anteriormente exercido. É nesse período que vão nascer os partidos políticos, os jornais. É nesse período de maior liberdade que, paradoxalmente, os linchamentos surgem em Maputo e Matola, indicador claro de desajuste social. Foi em 1996 que ouvi alguém dizer o seguinte: acabou a guerra das armas, começou a guerra dos preços.
As cidades estão cheias de gente, de gente fugida do campo e da guerra, de gente traumatizada pelo passado e confrontada com um novo e obscuro futuro, de gente fazendo face a novos padrões de vida, de gente ávida de equilíbrio, de sentido, de alegria, de paz.
É um período de fim de crise no início de uma nova crise, a crise de adaptação a novos modelos de vida, às tensões da sobrevivência diária. A tensão afectiva, o traumatismo de guerra, o conflito de gestão de diferentes culturas, a incerteza do futuro, reforçam a necessidade de segurança e ampliam paralelamente o medo do acaso, do indeterminado, do aleatório, dos maus espíritos urbanos. O xicuembo é agora habitante do mundo capitalista.
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