12 março 2008

O que faz correr Guebuza? (2) (prossegue)


Prossigo esta curta série.
A era guebuziana é, de forma vincada, um regresso do samorismo que não pode, porém, perder de vista o chissanismo. O estilo intervencionista, a multiplicação da figura do dirigente carismático, inspector e punidor, recordando um pouco as ofensivas políticas e organizacionais dos anos 80 (repare-se na mudança quase frenética de ministros), o regresso do sonhos milenaristas (combater e vencer a pobreza absoluta), o reinado ressurgido das decisões rápidas, a pressa de tudo resolver em luta contra a espessura do chamado deixa-andar chissânico, tudo isso constitui a matéria-prima, o combustível de uma era que é uma espécie de sobressalto samoriano com o lastro chissaniano.
Na verdade, o guebuzismo é um braço messiânico entalado no corpo chissânico. Quer correr quando o passado exige que ande devagar. É, portanto, o exercício de uma fase de transição cujo passado ainda existe e os contornos do futuro ainda não nasceram. Armazena a vibração de um desejo e a tensão dos fenómenos por resolver. As atitudes, as posturas correctivas, o imediatismo visível nas decisões são como que o protesto samoriano em meio chissaniano. O povo exige, nós corremos para o escutar. Temos a vertigem dos horizontes nas savanas expectantes.
Digamos, sempre multiplicando as imagens, que Guebuza é Samora abraçado a Chissano. Do primeiro recebe o impulso, do segundo os limites; Samora era o pai fundador do socialismo moçambicano, Guebuza é o continuador de Chissano no reforço do capitalismo de Estado que colhe em Samora a tinta que sobrou da casa socialista; Guebuza é uma bissectriz, é uma antífrase, é, para fazer uso da física quântica, uma "desordem" samoriana regida pela "ordem" chissaniana.

2 comentários:

(Paulo Granjo) disse...

Diz, noutras palavras, que é um namorado-sanduiche?

Carlos Serra disse...

Talvez....