08 março 2008

Filme sul-africano sobre mutilação genital feminina

Neste Dia Internacional da Mulher, permitam-me dizer-vos que, com o título "Cortando o silêncio", um filme sul-africano de 29 minutos foi seleccionado para o Festival Pan-Africano de Cinema que se realizou o mês passado em Los Angeles, Estados Unidos. O filme explora a prática da mutilação genital feminina em países norte-africanos (obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência).
Três milhões de raparigas (entre os 4 e os 14 anos) e mulheres sofrem anualmente mutilação genital (ablação do clitóris) em 28 países muçulmanos de África e Médio Oriente. Estima-se que a mutilação genital afecta metade das mulheres africanas e, por exemplo, 94% das mulheres do Mali. Na Mauritânia, três em cada quatro mulheres são mutiladas. Entretanto, nos países onde ocorre o ritual, seis mil correm o risco de a sofrer diariamente. A mutilação provoca mais mortes nas mulheres entre os 15 e 44 anos do que o cancro. Os seus defensores afirmam que a prática permite a integração da mulher no mundo social dos adultos.
Foto reproduzida daqui.

8 comentários:

Anónimo disse...

O mesmo argumento usado pelos defensores da mutilacao genital masculina (a chamada circuncisao masculina). Os Americanos praticam-na em seres inocentes recem nascidos, talvez mandar umas tantas ONG's para combater essa aberracao contra os direitos humanos, pior de criancas indefesas, onde anda o UNICEF para denunciar essa aberracao? Ja os Brasileiros nem tanto por ai. Em Africa vem a caminho mutilacao genital masculina em massa em nome da prevencao do HIV, no cantinho tem uns rabinos vendendo sua cultura. Quital tambem umas ONG's para combater essa pratica secular impiedosa, que reduz a sensibilidade no sexo masculino.

Anónimo disse...

mutilacao genital masculina = circuncisao masculina???!
Por favor...penso que anda equivocado...a remoção do prepucio n é equiparada a uma mutilação e acho que ate é recomendada em certos casos...E n me parece que os homens que a fizeram apresentam os problemas evocados pelo anonimo acima... quanto a mutilação genital feminina...é outro assunto, real e por ser resolvido!

Carlos Serra disse...

Deixem-me dizer alguma coisas, tomando como base exclusivamente o nosso país. Os ritos de iniciação à maturidade (estudei muitos os da Zambézia)eram e ainda são vigentes nas zonas centro e norte do país, comportando múltiplos aspectos. No que concerne à sexualidade, os ritos femininos comportavam e comportam o alargamento dos grandes lábios genitais, por forma a ter e a dar maior prazer; nos rapazes, comportavam e comportam o corte do prepúcio, por forma a facilitar a penetração. Não possuo indicadores da existência de excisão feminina em Moçambique.

Anónimo disse...

De facto posso andar equivocado, é por isso que penso que conversando aprendemos mais dos outros é por isso que gosto de sala de aulas do professor Serra, aprendo muito aqui. O que disse e reitero, a partir dos meus parcos conhecimentos, é que ambas sao mutilações (por favor visite o significado da palavra e ilustre o meu equívoco). Pois parece-lhe, a mim também parece, mas parece-me com base em leitura e discussão com pessoas que trabalham o tema, e existem casos de processos abertos contra hospitais nos EUA por pais de criancas masculinas mutiladas a nascença, sobre acidentes idem aspas. Tenho que ambos são assuntos reais a serem resolvidos a partir de diálogo e não imposições, mas estou sobretudo aberto a que ajudem a clarificar meus equívocos. Tento ler para além das minhas ideologias, porque estas ordenam o meu mundo em termos de normal e anormal, e não deixam perceber que é normal para mim aquilo que assim me foi feito acreditar e reproduzir. Assim para alguns, circuncisão masculina não é mutilacao, certo, mas porquê? O que faz uma circuncisão e outra mutilação? Circuncisão masculina é necessaria, mas porquê? O que acontece a largos pedaços de seres masculinos que não foram submetidos a tal prática ritual? Vide Brasil. Tenho que responder essas e outras questoes, de forma comparada com a circuncisao feminina, pode alargar a conversa para além das minhas ideologias que naturalizam e normalizam as coisas que faço, e acho que tenho domínio sobre elas, e demonizam todas as que não faço, e por via de leituras superficiais julgo dominar o assunto.

Anónimo disse...

De facto tambem ainda nao ouvi falar em circuncisao feminina em Mocambique. Uma curiosidade professor, existira diferenca na designacao de prazer sexual e outros prazeres (de apreciar um bom prato) em Echuabo? Parece haver aqui uma naturalizacao do prazer, e um prazer exclusivamente genital. Nos rapazes quando o penis esta ereto o prepucio volta e a glande avanca, entao talvez exista algo para alem de facilitar a penetracao. Outro problema levantado e que com o prepucio a sensibilidade do penis e elevada o que gera uma ejaculacao em escassos minutos.

Carlos Serra disse...

1. Os ritos iniciáticos são bem mais do que uma prática sexual, são uma escola.
2. O corte do prepúcio pode, rigorosamente tb, ser considerado uma violência, pois é efectuado em crianças e sob peso da autoridade linhageira ou familar,
3. Não sou competente para avaliar os prazeres e desprazeres decorrentes, por exemplo, do corte do prepúcio.

Anónimo disse...

Obrigado professor. A quem interesse seguir o debate com um pouco nais de profundidade, um possivel inicio, que retrata o ponto no qual parece muitos estarmos. Da santidade da mutilacao masculina vs demoniedade da circuncisao feminina. Extrai o seguinte trecho 'The topic of genital cutting first captured my interest while I was teaching a gender course at a regional university in the United States. During the semester, we explored female circumcision as part of a broader examination of the ways in which gender becomes physically inscribed on human bodies. My goal was to provide students with a more culturally relative perspective on female circumcision and to encourage them to consider similar practices in their own society. To this end, I drew comparisons to male circumcision: the most common
surgical procedure in the United States today. Each semester, the reaction of the students was both immediate and hostile. How dare I mention these two entirely different operations in the same breath!Howdare I compare the innocuous and beneficial removal of the foreskin with the extreme mutilations enacted against females in other societies! As far as my students were concerned, there was no basis for comparison.’, deste texto: KIRSTEN BELL ‘Genital Cutting and Western Discourses on Sexuality’MEDICAL ANTHROPOLOGY QUARTERLY, Vol. 19, Issue 2, pp. 125–148. Nao que o que e dito seja a verdade, mas penso que permite alargar o horizonte de questoes e respectivas respostas.

Patricia disse...

Na minha muito modesta (até mesmo pouco informada opinião) estão a comparar o incomparavel quando falam de mutilação masculina e feminina.
Numa circuncisão (ou como lhe chamam - e eu nao concordo - mutilação masculina) é removida uma porção de pele, que de acordo com muitas opiniões masculinas, incluindo a do meu proprio namorado (que não é judeu, nem o fez por motivos religiosos) não intrefere minimamente com a sua vida normal. Ele e eu, acreditamos que esteticamente e higiénicamente falando é vantajosa. Sou contra toda a circuncisão feita selvagicamente, sem recurso a médicos, meios e higiene. Essa sim deve ser combatida. Não concordo tambem com os motivos religiosos, mas se o procedimento for correctamente feito...é um mal menor, porque nada de mau dai advirá para a criança,jovem ou adulto que a faça.
No caso da mutilação feminina, estamos a entrar num campo barbaro. Estamos a falar da completa destruição do orgão sexual, seja qual dos "tipos" de mutilação que se esteja a falar.Estamos a falar de destruir uma criança fisica e psicologicamente. Nenhum hospital, nenhum médico faria um procedimento desses. Nada de vantajoso advem para a mulher duma cirurgia dessas. Pelo contrario, perde prazer sexual, sente-se diminuida enquanto mulher, tem problemas de saude graves que podem culminar em morte, vive minutos que devem parecer horas em puro sofrimento, com dores fulminantes.E sao sempre procedimentos feitos sem qualquer tipo de higiene, controlo, apoio, anestesia....o que quer que seja.
é barbaro, selvagem, doentio, incompreensivel....mas compreendo que é cultural tambem, é o que acham correcto fazer, porque é a realidade que conheçem como certa. Não defendo de forma alguma, mas compreendo que quem a pratica acredita piamente que é o correcto, embora nao o seja!
Mas acho incorrecto compararem uma circuncisão masculina, cuidadosament feita, sem complicações de qualquer especie, que mais se assemelha a uma outra cirurgia estetica como implantes ou semelhante, a um acto barbaro e selvagem de completa destruiçao a sangue frio, intencional, do orgao sexual da mulher sujeitando-a a inumeras complicações e mesmo morte. No minimo inflinge na mulher o sentimento de que não o é, porque não esta completa.
Querem comparar furar uma orelha pausar um brinco ou o que seja, a cortar essa mesma orelha fora e ficar so com o ouvido, com um buraquinho??? é quase essa a comparação que estão a fazer independentemente da vossa opinião. Sejam a favor ou contra a circuncição masculina e a mutilação feminita, não as comparem porque não sao comparaveis.