A história do apartheid na África do Sul é atravessada pela criação de guetos racialmente distribuídos, distantes das cidades dos brancos. Lá estavam (e lá continuam), por exemplo, os negros, mão-de-obra barata.
O fim formal do apartheid criou para esses excluídos a esperança não apenas do fim dos guetos, mas, também e fundamentalmente, da melhoria substancial das condições de vida.
Não há, porém, indicadores de que essas condições de vida tivessem melhorado. Como escreveu William Gumede, analisando os ataques xenófobos iniciados em Alexandra, o que se passa tem muito a ver com a incapacidade do governo em fornecer serviços básicos aos pobres, como alojamento e emprego.Mas a África do Sul sempre tem sido uma espécie de eldorado para os estrangeiros, que aí vão à procura de melhores condições de vida, eles também.
Numa concentração elevada de frustração e hostilidade, num país onde muitos dos antigos artífices da libertação nacional enriqueceram e enriquecem criando as condições para um novo apartheid, os pobres dos bairros da lata sul-africanos viraram a sua raiva para outros pobres, os africanos estrangeiros. Um processo de transferência de imputação causal quase clássico na história da humanidade, processo de "amnésia" que se constitui como mensagem de nacionalismo extremo, disfarçando e narcotizando o peso das desigualdades sociais internas, cada vez mais acentuadas. A diabolização xenófoba é cruel, mas pode ter dividendos políticos importantes.
4 comentários:
No pais de Mondlane, Machel e Chissano, o presidente adiou a ida a Cabo Delgado para ir a um funeral , compreensivel. Agora que mocambicanos estao a morrer, feridos, a ficarem sem os seus bens, outros milhares a serem expulsos da Africa do Sul tudo o que ele tem a dizer, e que a cooperacao entre os dois paises saira reforcdada, percebi bem o que li aqui?
http://www.imensis.co.mz/news/anmviewer.asp?a=12581&z=15 Tudo o que o presidente tem a dizer e que o governo esta ajudar os que querem regressar? E gritar vivas, enquanto morrem e sofrem concidadaos e parentes nossos? Como o presidente do meu pais pode dizer uma coisa destas e continuar a sua viagem de trabalho? Nao seria altura de uma cimeira entre os dois estadistas? Espero fiquem licoes para os combatentes apoiantes da integracao regional de alguns politicos e alguns empresarios da SADC. A secreta Sul africana foi apanhada de surpresa? Que integracao regional andam a falar, uma na qual so os Sul africanos podem vir enriquecer em Mocambique e os mocambicanos? Apelo a serenidade e redifinir os rumos da cooperacao e os respectivos moldes. Esse e problema para ser resolvido pelo PR pessoalmente!
Artífices da libertação nacional que enriqueceram! Os malandros! deveriam ter continuado naquelas miseráveis condições em que as suas mães as pariram! Mas não, tinham que enriquecer, os malandros!
O Professor tem muita razão. Aquela numarora classe média-alta negra que emergiu na África do Sul só pode ser constituída pelos tais artífices da luta de libertação nacional. A sua emergência, como classe média-alta só pode ser um erro histórico. Ainda não perceberam que nenhum "artífice da luta de libertação nacional" se pode diferenciar dos seus irmãos que são miseráveis. Isso é causa de instabilidade social.
Era melhor o tempo do Apartheid em que não havia nenhum "artífice" rico ou a enriquecer. Nessa altura não havia instabilidade social como somos chamados a assister nestas cenas de xenofobia.
Artur Mabote
(Era melhor o tempo do Apartheid em que não havia nenhum "artífice" rico ou a enriquecer. Nessa altura não havia instabilidade social como somos chamados a assister nestas cenas de xenofobia.). Discordo totalmente e pecco que consulte os arquivos da comissao da verdade e da reconciliacao, deve apanhar isso via google, mas em Ingles. Existe uma cultura de violencia de Estado, instituida no tempo do Apartheid, legitimida por um mito chamado Tchaca Zulu, e virou festa.
Caro anónimo, o texto de Mabote é irónico. Ele está a dizer as mesmas coisas que V.Excia. Releia-o por favor.
Vasco Manhique
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