05 maio 2008

Vivem no cemitério

Escreveu o Albino Moisés que vivem crianças no cemitério de Lhanguene, cidade de Maputo: "Com idades entre 16 e 20 anos mostravam sinais de consumo de álcool (aposto que era “Tentação”). (...) estes jovens não são de “fora”. Eles são da “casa”. Ou seja, eles não vieram ali para participar de qualquer cerimónia. Eles “residem” ali no Lhanguene. Aquele lugar dos mortos é o seu “habitat”. Entraram ali crianças, primeiro vendendo água ( por vezes malcheirosa), seguiu-se a fase de “acostumação” às campas e por fim, o pula-pula entre os jazigos profanados, onde brincam o “polícia-ladrão”, “mata-mata”, “cabra-cega”, “neca”, “matokozane”. Ali passam de segunda a segunda, de manhã e a tarde. Quer faça sol ou chuva, eles não arredam pé. Participam e assistem a todos os funerais do dia, como se fossem coveiros. Eles perderam medo e peso da morte. Dão menos importância aos choros de uma mãe...Muitos destes miúdos não vão a escola. Vender água é prioridade para suas vidas. Reconhecemos que a vida nesta “pátria Amada” da “Pérola do Índico” as coisas não estão fáceis...algumas destas crianças fazem-no por pobreza, mas não podemos ficar alheios a tudo isto. Temos que intervir. Hoje mesmo, antes que amanhã seja tarde."

2 comentários:

Anónimo disse...

E o que recebem pelo que fazem vender água, limpar e proteger campas, guardar carros, fazer a ligação com pintores ou pedreiros para pequenas obras) é-lhes muitas vezes roubado por adultos que durante a noite usam os jazigos como casa. Soube há dias por um grupo de crianças que esses assaltos se tornaram muito frequentes a partir de Janeiro do corrente ano.
Situações como a que vivem tais crianças já estão, infelizmente, de tal forma arreigadas entre nós que, não havendo para elas outras soluções, muito difícil será qualquer medida impeditiva do seu modo de vida.

Carlos Serra disse...

O fenómeno merece um estudo, para começar. Eu tb já as vi. Os seus olhos são as de adultos envelhecidos e endurecidos, escondidos na alegria das crianças que ainda são.