17 maio 2008

Os dois Brasis (os dois Moçambiques também?)

Em 2006, o Prof. José de Sousa Martins - com quem tive o prazer de estar quando da minha recente estadia em São Paulo - deu uma entrevista ao jornal O 11 de Agosto, cujo texto me fez chegar há momentos e da qual extracto aqui as seguintes passagens: "O Brasil tem um problema estrutural não resolvido, que é o da exclusão política da imensa maioria da população. Mesmo com a progressiva e lenta ampliação do número dos que podiam ser eleitores, a partir da proclamação da República, a inclusão eleitoral não se materializou como inclusão política. Foi, por isso, inclusão perversa. Nosso eleitorado é no geral alienado, vota em pessoas e, sobretudo, em estereótipos. Raramente vota em idéias e partidos, até porque praticamente não temos verdadeiros partidos políticos. Nossos partidos são, no geral, associações de interesses extra-políticos, poucas vezes articulados em torno de um núcleo de idéias relativas tanto à administração do Estado quanto ao presente e ao futuro da sociedade. (...) Os dois Brasis já não são apenas o Brasil desenvolvido e o Brasil subdesenvolvido, de que tratou Jacques Lambert, em Os Dois Brasis , o Brasil rico e o Brasil pobre, mas o Brasil legal e o Brasil clandestino, o Brasil da lei e o Brasil alternativo que não está reconhecido nas leis. Este segundo Brasil cresce em todos os planos: na já rica e poderosa economia clandestina, no Estado paralelo e oculto que aparece mal disfarçado sob o rótulo de corrupção e na justiça paralela (que vai dos linchamentos aos tribunais de pequenas causas das organizações criminosas). A relação entre esses dois Brasis é real e organizada e se consolida através das figuras que transitam, na economia e na política, entre os dois. Sem isso, estaríamos, provavelmente, mergulhados numa guerra civil – se é que já não estamos, pois tudo indica que o Brasil clandestino declarou guerra ao Brasil legal, que só não reagiu, ainda, por falta de munição, a da consciência crítica e da competência política."
Observação: seria interessante interogarmo-nos sobre os nossos dois Moçambiques.

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