"As questões relacionadas com a pobreza urbana têm recebido pouca atenção em Moçambique, embora a taxa de pobreza urbana seja elevada e a desigualdade urbana esteja a subir. Nos bairros de Maputo, o desemprego, criminalidade e altos custos da alimentação, habitação e terra inibem os pobres de converterem o progresso na educação e saúde em rendimento e consumo melhorados. Num contexto onde o dinheiro é uma parte integrante da maioria das relações sociais, os mais destituídos tornam-se marginalizados sem ninguém a quem recorrer. A subida da pobreza urbana e desigualdade em Maputo causam também um impacto adverso nas relações vitais urbano-rurais, e podem pôr em perigo a estabilidade política." Eis um resumo em português de um trabalho da autoria de Margarida Paulo, Carmeliza Rosário e Inge Tvedten, realizado para o Instituto Chr. Michelsen, trabalho para o qual eu já tinha chamado a atenção neste diário faz alguns dias.
Os pesquisadores, que tomaram como ponto de referência quatro bairros da cidade de Maputo, escreveram a certa altura o seguinte: "Ao nível dos quatro bairros Mafalala, Inhagoia, Laulane e Khongolote enquanto comunidades, o viver amontoado e a criminalidade têm um impacto negativo nas estratégias de sobrevivência e sentido de segurança das pessoas. Desastres recentes como inundações, deslizamentos de lama e explosões juntaram-se ao sentimento de empobrecimento e vulnerabilidade. O grande número de jovens de ambos os sexos, nos bairros, com habilitações mas desempregados e frustrados, que não conseguem viver segundo as normas da moderna vida urbana, pode pôr em perigo a actual estabilidade política." Leia aqui.
Os pesquisadores, que tomaram como ponto de referência quatro bairros da cidade de Maputo, escreveram a certa altura o seguinte: "Ao nível dos quatro bairros Mafalala, Inhagoia, Laulane e Khongolote enquanto comunidades, o viver amontoado e a criminalidade têm um impacto negativo nas estratégias de sobrevivência e sentido de segurança das pessoas. Desastres recentes como inundações, deslizamentos de lama e explosões juntaram-se ao sentimento de empobrecimento e vulnerabilidade. O grande número de jovens de ambos os sexos, nos bairros, com habilitações mas desempregados e frustrados, que não conseguem viver segundo as normas da moderna vida urbana, pode pôr em perigo a actual estabilidade política." Leia aqui.
Recordo que sistematicamente tenho apontado essas condições de vida quando me refiro aos linchamentos. Leia, por exemplo, o meu texto publicado nas centrais do semanário "Savana" desta semana, com o título "Linchamentos, eclipse do social e bodes expiatórios".
3 comentários:
professor! acho o teu texto muito util para os que estao interessados em compreender a logica dos sismos sociais. gostei da "Morfologia dos bairros periféricos de Maputo" e "Noite e catarse" por alguns momentos voltei ao meu chamanculo, senti-o bastante presente.
num outro comentario comentei paralelismo entre a convicao popular na identificacao do "outro" como anormal, e os discursos da classe politica sobre a mao invisivel.
Terei ainda ocasião de explorar o facto de a "projecção catárquica" ser efectuada não contra os "ricos", mas contra os "pobres". A anormalização do "pobre" feita pelo "pobre" é um momento maior do trabalho sobre linchamentos.
Professor, que tal problematizar um pouco o "termo bairro periférico". É periférico porquê? Vivem lá apenas pessoas pobres? O conhecimento que eu tenho da Cidade de Maputo desmente um pouco esta noção. Nos bairros que mencionou aqui, é possível encontrar de tudo; desde mansões a casebres. Há em Laulane muitas pessoas pobres; mas há em Laulane algumas pessoas ricas, pelos padrões de Moçambique, claro.
Quem circula por todos esses bairros, há-de se dar conta de que, as pessoas que pretendam construir, não o fazem tendo em conta a "selectividade" do bairro. Giam-se pela facilidade de encontrar espaço para fazer a casa. Um empregado do Banco de Moçambique (que estão entre os bem pagos) tanto pode construir no Belo Horizonte, como em Magoanine ou Gwava. Mesmo funcionários superiores (secretários permanentes, administradores de empresas, ministros) constroem nos tais "bairros periféricos"
Creio por isso, professor, que talvez fosse bom problematizar um pouco mais esse termo, tendo em conta a realidade concreta de Moçambique.
Por outro lado, o viver na Sommershield, Polana, Coop... não é, necessariamente, sinónimo de estar bem na vida. Muitos foram parar lá por via das atribuições de casas da moribunda APIE (Administração do Parque Imobiliário do Estao). Muitos nem recursos têm, para garantir uma manutewnçao condigna das casas que "herdaram". É só ver alguns jardins. É só ver que alguns não conseguem substituir vidro quando parte, cano de água quando rebenta, etc.
Assim, a zona de cimento não pode ser rigorosamente descrita como zona dos não excluidos, dos não marginalizados. Há nesta zona alguns ricos (pelos padrões moçambicanos, de novo). Mas há também muita pobreza. Talvez similar à que pode ser encontrada nas chamadas "zonas periféricas".
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