24 março 2008

Eleições no Zimbábuè também são nossas (4) (prossegue)

Prossigo este série.
As eleições no Zimbábuè realizam-se este sábado.
O presidente Robert Mugabe (lado direito da foto) e o partido no poder, a ZANU PF, estão a praticar uma engenharia de cativação a todo-o-terreno (aumento de salários, tractores, acções nas empresas, alimentos), enquanto dizem em numerosos comícios que apenas com eles o Zimbábuè poderá prosperar, que a oposição é unicamente uma correia de transmissão do inimigo, dos Britânicos, dos brancos, sem espírito nacionalista, que jamais essa oposição poderá governar o país pois - elemento capital este - não fez parte da luta de libertação. Os comandantes do exército e da polícia já afirmaram publicamente que apenas reconhecerão Mugabe como presidente. Exército e polícia estão em alerta máximo. A polícia está autorizada a permanecer junto das mesas de voto.
A oposição é completamente demonizada: o dissidente da ZANU, Simba Makoni, candidato presidencial, é considerado um "prostituto político"; o MDS e Tsvangirai (ao meio na foto) são considerados braços dos britânicos e dos brancos.
Por outro lado, as organizações e os países críticos do regime, não foram autorizados a observar as eleições.
Analisando a história política do Zimbábuè, creio ser possível considerar três fenómenos atinentes ao imaginário cristalizado há mais de 30 anos na ZANU PF:
1. A teoria dos valores e dos direitos vitalícios de quem chegou primeiro, dos fundadores do país, dos primeiros estabelecidos, robustecida desde 1987 no caminho aberto para o one party state. Apenas os primeiros estabelecidos têm o direito de governar. Quem chegou depois ou quem não participou da luta de libertação, é elemento espúrio, falso, imoral, certamente ao serviço do inimigo externo. A defesa e a crença intransigentes nos valores da primogenia libertadora caucionam implicitamente o golpe de Estado (ameaça já feita pelo comando do exército) destinado a repor os valores primordiais, caso um acidente histórico desvie o sentido dos votos para o elemento espúrio.
2. A teoria disfarçada da neo-monarquia, da teocracia, na qual a defesa dos valores e dos direitos vitalícios autoriza o funcionamento de uma estrutura de poder de facto monárquica, com uma cerrada malha de patronagem e de clientelismo disfarçada (ainda que com crescentes dificuldades) sob a forma de uma cenodemocracia periodicamente vinda a público.
3. Produto da neo-monarquia, da teocracia, a convicção inabalável e milenarista de que o povo está afectivamente do lado da primogenia, de que o povo jamais aceitará a entrada no poder dos elementos espúrios, estrangeiros à saga gloriosa e irremediável da luta de libertação e, por consequência, nocivos ao papel de genuíno promotor do desenvolvimento e da nação incarnado pela ZANU PF.
Nota: em qualquer altura poderei proceder a modificações no texto, o que, a suceder, será assinalado a vermelho.

3 comentários:

Anónimo disse...

É aconselhável procurar informação adicional sobre o Zimbabwe. O ódio contra Mugabe e o processo que ele liderou, particularmente aquele que culminou com a reestruturação da posse da terra, que antes era detida assimetricamente por descendentes de colonos brancos, é bastante grande. Círculos racistas da região e do ocidente enveredaram, desde há vários anos, por um processo de completa diabolização de Mugabe e da ZANU. É necessário ser muito ingénuo para acreditar nesta pintura que Carlos Serra faz do Zimbabwe, da ZANU e de Mugabe.

Parece que está em marcha a preparação psicológica para recusar os resultados eleitorais naquele país, seja qual for a votação conseguida pela oposição. Os nossos "analistas" não apresentam estudos isentos sobre as intenções de voto da população urbana do Zimbabwe, da população rural. Não nos apresentam como os vários candidatos são percebidos ao longo das divisões étnicas naquele país (notar que o factor étnico é bastante forte no Zimbabwe. Aparentemente é mais presente que em Moçambique).

As postagens que temos visto aqui seguem a velha linha de diabolizar e pretender negar, depois, os resultados eleitorais. Há outras realidades no Zimbabwe que poderiam ser captadas e apresentadas aos leitores de Moçambique e do mundo. Uma das realidades que não pode ser ignorada, excepto por manifesta desonestidade intelectual, é a probabilidade de uma vitória justa de Mugabe e da sua ZANU nas próximas eleições. Vitória provável e possível porque as acções de Mugabe respondem aos fortes anseios de uma parte significativa da população do Zimbabwe.

Jonas Langa

Anónimo disse...

Seria possível alguém trazer informação adicional sobre o Zimbabwe conforme proposto pelo anónimo anterior.

Mabindo Vamangue

Anónimo disse...

Caros Amigos,

Há informação adicional sobre as eleições no Zimbabué no website da Sokwanele, Zimbabwe Election Watch, demonstrando abusos dos princípios e normas da SADC sobre eleições bem como abusos flagrantes dos Direitos Humanos pelo regime Mugabe.

http://www.sokwanele.com

http://www.sokwanele.com/map/all_breaches

Um abraço
Oxalá