Os dados estatísticos são sempre uma coisa interessante. Por três razões: porque podem estar certos, porque podem estar próximos da realidade e porque podem estar errados. E podem estar errados por várias razões, claro. As causas para qualquer destas situações são um excelente laboratório sociológico.
É sempre fascinante quando alguém começa a comparar os dados oficiais com dados que o não são.
Em Setembro de 2003, por exemplo, o consultor internacional Fillipo Del Gatto apresentou, para o Ministério da Agricultura, um relatório destinado a contribuir para o reforço da lei das florestas em Moçambique.
Nesse relatório, Gatto comparou as estatísticas oficiais de corte de madeira entre 1997 e 2001 com as estatísticas de uma pesquisa levada a cabo por uma organização chamada Eureka*.
Ora, a comparação mostrou que o corte real de madeira estava bem acima, assustadoramente bem acima do que os dados oficiais mostravam. A produção ilegal era não apenas corrente quanto enorme. O corte ilegal entre 1999 e 2001 ter-se-á situado entre 50 e 70% do total da produção nacional, entre 90.000 e 140.000 metros cúbicos de produção não autorizada.
O relatório de Gatto contém muitos outros dados inquietantes.
Certo, o relatório data de 2004. Certo, alguém vai aparecer a dizer que isso é tempo passado. Certo, alguém vai aparecer a defender que há mão estrangeira nesta história.
Mas é sempre salutar pensar no que as estatísticas nos parecem dizer, no que elas não nos dizem e no que elas nos podiam dizer.
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*Referência bibliográfica constante do relatório de Gatto.
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