10 novembro 2009

O que é Moçambique, quem são os Moçambicanos? (6)

Sou decididamente um desastrado, crio séries e, depois, vejam lá, fico seriadamente esquecendo-me delas. Vamos lá conta-gotar esta.
O sertão é calcorreado em inúmeras e lentas caminhadas pelos mais variados tipos de gentes, coisas que ficaram, aqui e acolá, registadas em papéis, em relatórios, em cartas. Gente do mar e gente da terra, caminhos são abertos em redes de reis, chefes de aldeias, forasteiros, espingardeiros, degredados (entre os quais prostitutas), comerciantes, simples curiosos. Há três coisas, entre muitas, que são procuradas com persistência pela gente do mar e por seus intermediários locais: ouro, marfim e escravos. A contraparte são espelhos, missangas, tecidos europeus primeiro, indianos depois.
Mas ao mesmo tempo que a gente do mar está em vaivém nas savanas, certos alimentos começam, eles também, a chegar e a enraizar-se especialmente a partir do século XVI. Há um longo e múltiplo itinerário percorrido desde o milho à papaia, passando pela mandioca setecentista, ampliando a rede nutricional local da mapira, da mexoeira, do arroz (O. Glaberrima?), dos feijões, dos animais de capoeira, da carne de caça (por exemplo, o consumo de carne de elefante aparece em vários documentos), etc.
Um complexo mundo mestiço vai surgindo, plurireligioso, plurilingue. O moade, o capelão e o curandeiro estão em interface. A costa e certas regiões do interior são alfobres de ligações interraciais e interlinhageiras. O pré-Moçambique é polimorfo.
(continua)

1 comentário:

umBhalane disse...

Força Prof.

Vieram as eleições, não? Natural.

Prioridades.

Estou atento, seguidor.

Bom trabalho.