15 outubro 2008

Maria Kato, defensora pública (4) (continua)

Carlos Serra: que leitura política faz do Brasil?
Maria Kato: o Brasil, politicamente sempre foi autoritário. E é Emir Sader, na obra “A transição no Brasil: da ditadura à democracia?” quem afirma que a história está “coalhada de momentos em que as elites dirigentes se anteciparam à constituição de uma vontade popular surgida de baixo, alinhavando pactos por cima”. Penso que o Brasil sempre foi assim politicamente: sempre uma costura de interesses políticos representativos de várias classes sociais, seja a burguesia seja o latifundiário. A nossa Constituição Federal denominada cidadã (de 1988), de fato, foi um avanço em termos de garantias de direitos fundamentais para o cidadão, fruto de uma grande mobilização social. Mas, sucumbiu diante do grande poder econômico internacional, que se impôs com a globalização do capital financeiro. Não houve mudança estrutural no sistema econômico e o trabalhador ou a classe social fora da produção acabou não sendo alcançada pela Constituição. Ficaram “fora” do grande “pacto social” e despencam no abismo. O Lula, grande esperança em 2002, acabou por revelar-se um excelente político, diria eu, do “liberalismo”, pois sem alterar em nada a estrutura econômica da sociedade, desenvolveu programas emergenciais contra a fome (sem dúvida importante), estimulando ações sociais, de cunho paternalista. Hoje o Brasil, politicamente é uma peça importante para a economia mundial, mas, contraditoriamente, como parte do processo, é com este Brasil de Lula que se vai caminhando e abrindo espaços de organização social para novas formas de resistência e de luta em toda a América Latina.

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