Os linchamentos esquecidos (2) (prossegue)

Prossigo a série. O jornalista Jocas Achar do "Notícias" escreveu o ano passado um trabalho sobre os linchamentos em Inhassunge, ali perto de Quelimane, província da Zambézia. Aqui o problema não consiste em linchar quem é suposto ser ladrão, mas quem é suposto estar enfeitiçado, ser mukwiri (portador do mal, do mau espírito, o okwiri). Quase sempre é uma pessoa idosa que é acusada: "As histórias relacionadas com o feitiço em quase toda a província da Zambézia são várias, o que leva a que algumas pessoas naturais da zona quando têm oportunidade de estudar ou trabalhar fora da província, dificilmente regressam às suas zonas de origem. Segundo soubemos, embora o problema de feitiçaria ocorre em toda a província da Zambézia, no distrito de Inhassunge, sobretudo nas localidades de Olinda, Abreu, Cuvunga e Gonhane, tal prática tem já "barba branca". Os principais mentores dos assassinatos bárbaros são jovens incitados por outros membros da família mais velhos para eliminarem pessoas idosas que segundo eles são os responsáveis das desgraças que ocorrem no seio de muitas famílias. Entretanto, o Governo local diz que tem vindo a sensibilizar a população de todo o distrito, através de mensagens que desencorajam tais práticas, mas ainda não logrou nenhum efeito. As pessoas insistem em se amarrarem às práticas tradicionais e culturais algumas das quais em nada ajudam, pelo contrário prejudicam, tais como estas acusações de feitiçaria que acabam tirando a vida de pessoas inocentes, sobretudo idosas. Segundo a nossa fonte, os idosos são nossos pais que merecem todo o nosso respeito e consideração. Sem eles, não estaríamos aqui no mundo. Por isso, devemos respeitá-los e cuidar deles. "Os idosos são muito importantes para ensinar as novas gerações coisas que os jovens não percebem. Como é que se pode permitir que sejam estes jovens a tirar a vida aos seus avós, sob pretexto de feitiçaria", questionou, lamentando tais factos. A fonte prometeu que as instituições governamentais vão continuar a trabalhar no sentido de evitar que mais pessoas sejam sacrificadas. Segundo a fonte, depois de uma relativa calma, o fenómeno voltou à ribalta no distrito, mas o Governo promete mão dura para os infractores. Aliás, parte dos jovens que executaram recentemente os idosos foram detidos pela Polícia , tendo sido encaminhados para as celas da PRM em Quelimane."