08 agosto 2007

Aforismos

Faz tempo que não escrevia aforismos (relembre outros, por exemplo aqui e aqui). Eis, então, mais mais uma pequena colecção, perversa como sempre:
1. Não és forte nem fraco, virtuoso ou pusilânime, bonita ou feia, senão numa relação. É na relação que nasces com esses atributos, eles não estão em si em ti. És forte se eu permitir; virtuoso, se me convenceres; bonita, se eu assim achar.
2. Se queres estar no alto, tens primeiro de saber ser capacho. Em cada alma do topo habita um capacho humilhado na base. Por isso muitos se desforram no púlpito da arbitrariedade.
3. Se queres ser político, só tens duas opções: seres moral ou usares a moral. Decide.
4. Em cada decisão que tomas viajas numa de duas carruagens: a do hábito e da novidade. Por isso há velhas e novas decisões. Quando há decisões-sanduíche, é porque envelhecemos e damos aos erros o nome de sabedoria na estrada da dialéctica.
5. Não vás nunca por onde já foste: abre uma picada nova na rede viária dos teus hábitos.

10 comentários:

Anónimo disse...

Se qeres politico so tens uma hipotese: ser imoral. Q tal essa?
www.sanguemoz.blogspot.com

Carlos Serra disse...

"(...) seres moral ou usares a moral." - escrevi isso. Obrigado, abraço!

Salvador Langa disse...

Xi xamuali Carlos vc muito malandro mesmo sabia?

Anónimo disse...

« Le poète a dit :
Rare celui qui sait penser à toi sans penser à lui.
L’ami n’œuvre jamais que pour lui-même »
in Tawhîdî

Carlos Serra disse...

mais pas de lui-même sans l´autre...

Anónimo disse...

Il se peut, en effet, toute relation entre les hommes fait naître dans l’un une image de l’autre… c’est la une des pensées circulaires les plus profondes de toute la vie, soit elle politique, académique… Où placet-on, donc, les "non ami" ?

« On avait demandé au grande Aristote, le maître d’Alexandre :
« Qu’est-ce qu’un ami ? »
Il avait répondu :
« C’est celui qui est toi mais qui est autre que toi » » in Tawhîdî

Aguiar disse...

Desculpe Professor, porque escreveu o aforismo 2.?

Em parte estou de acordo consigo. Estou de acordo qdo diz que nao devemos, supostamente, queimar as etapas, em principio, um passo e um dia de cada vez, deveriam ser mais fáceis, pois eles já vêm na ordem. Entretanto, nao creio que todas as almas, que estejam no topo, hoje, tenham sido humilhadas, ontem, ou se quisermos estar no topo, amanha,tenhamos que nos deixar humilhar hoje...
Perdoe-me, mas nao creio, que seja condiçao necessaria ...
Se assim fosse, teriamos perdido mta gente interessante com espirito empreendedor e criativo, mas que recusa a humilhaçao como fenomeno de ascençao.

Desculpe Professor, com todo o respeito, penso que nao é necessario humilhar. Noa é necessario ser-se humilhado, nao é necessario submeter-se à humilhaçao, para se chegar ao topo, até porque ninguém gosta de ser humilhado, incluindo aqueles que sao vitimas das humilhaçoes ou os que a elas , aparentemente, se submetem...

A meu ver A HUMILHAÇAO CASTRA A IMAGINAÇAO. Uma boa parte do espaço necessario à criaçao, podera, tornar-se tributario, da humilhaçao passada e presente originando empecilhos ao desenvolvimento pessoal e colectivo. A humilhaçao, parece ser, assim, nao mais, do que uma permissa falaciosa, que esconde o nosso caracter egocentrico. Penso eu, modestamente, ao invés de nos subtermos, voluntariamente, à humilhaçao, é mais salutar confiarmos na vida, enquanto desenvolvemos nossos potenciais...

Carlos Serra disse...

Bem, tem razão. Talvez eu devesse ter acentuado certos percursos mais precisos. Mas olhe lá, não são os aforismos perversos?

Aguiar disse...

se sao os aforismos perversos?boa questao? nao sei.porque teriam os aforismos de ter algo de perverso? De imedito seria necessario saber o que entende o Professor por “perverso”. Sera algo que revela mudança, mudança para mal, depravaçao, corrupçao, traiçao? Em seguida era necessario perceber um pouco melhor o que o motiva a escrever aforismos. Ou melhor, conhecer quais os contextos que o inspiram escreve-los. Têm tais aforimos uma funçao moralista? Pretendem mostrar as varias faces de um problema, ou pretendem simplesmente sintetizar as diveras fases do problema. Pretende ser o aforismo Serraniano a cristalizaçao moral de uma determinada acçao? Nao sei.

É claro que esta é uma questao que merece uma reflexao mais aturada. Entretanto, face à panoplia de interrogaçoes, sinto-me tentada a dizer que, nao sao, os aforismos, enqto tal, detentores ou nao de algo perverso, mas sim as situçoes que os engendram.

Ora bem, existem, creio eu, qdo mto situaçoes complexas, querer sistematiza-las num so aforismo pode, eventualmente, tonar-se um acto perverso, o que por si so nao faz do aforismo um acto perverso.

Ao tentar traduzir situaçoes complexas de forma sistematizada e cristalizada o aforismo condensa, varias peliculas, numa so imagem. Porem, o acto de condesaçoa, digamos, implica por si so uma enorme reflexao. É necessario pensar. Sera que pensar é uma acto perverso?

Carlos Serra disse...

Sim, claro, o aforismo em si não é perverso. Mas talvez seja preferível eu falar em doce ironia...