22 abril 2006

Touraine e Bourdieu

Um dia tive o prazer de almoçar com Alain Touraine num restaurante do boulevard Raspail, em Paris. Eu estava desejoso de fazer algumas perguntas.
Quando senti que tinha chegado a altura, perguntei:
-Professor, o que o distingue de Pierre Bourdieu?
Imediatamente Touraine ficou nervoso. Comeu algo e respondeu, célere:
-Bourdieu está do lado dos determinismos, eu do lado da liberdade.
Vocês sabem: Bourdieu foi sempre acusado de manietar o homem nos determinismos e Touraine sempre defendeu, dizem muitos, o “actor” livre.
O que Touraine disse é rigorosamente falso: Bourdieu estudava os homens (atenção: termo genérico que não exclui as mulheres, claro) para melhor os libertar (quanto mais conscientes estamos daquilo que nos determina, mais livres podemos ser), a sociologia de Touraine mostra com frequência o peso desses determinismos.
E, já agora, deixem-me contar a forma como Touraine começou a lição inaugural de um curso seu na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais:
-A mulher não existe, é uma criação masculina.
Ora, “ A dominação masculina” é, exactamente, o título de um dos livros mais belos e controversos de Bourdieu.

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá,
Sou professora universitária no Brasil. Procurava materiais sobre Touraine e achei o seu blog. Achei interessante e concordei com a comparação. Sou também editora de uma revista eletrônica de psicologia social. Se quiser visitar o nosso site é http://gabi.ufsj.edu.br/Pagina/ppp-lapip . Obrigada, Lúcia Afonso