02 maio 2009

Combate folclórico da pobreza: uma nota ao discurso de desenvolvimento em Moçambique

Escavar os discursos oficiais e arqueologizar, descodificar o que eles escondem ou não deixam ver não é tarefa fácil entre nós, são muito poucos - excepcionalmente muito poucos - aqueles que a isso estão dispostos, que estão dispostos a deixar o conforto oficial e a estética dos textos açucarados e assexuados, dispostos a alijar carga dos textos falsamente críticos. O Raúl Chambote, estudante na Universidade de Birmingham, Inglaterra, é um desses descodificadores. Pequenas partes de um texto seu recentemente apresentado na II Conferência do IESE: "Quatro palavras: redução da pobreza, participação, empoderamento e ownership, associadas a boa-governação, recentemente, ganharam considerável aceitação no discurso sobre desenvolvimento em Moçambique. Carregando o fascínio de optimismo e determinação, impregnadas de poder normativo, essas palavras ainda permanecem vazias de significância prática no esteio de implementação de políticas de desenvolvimento em três níveis, nomeadamente, a nível político, com dupla dimensão: externa e interna. Enquanto o discurso se mantiver como está não existe espaço para soluções de desenvolvimento, pois o discurso falha em reconhecer as relações de poder, interesses económicos ou políticos, e a desigualdades de fortuna ancorados nos que detêm poder sobre os outros."

11 comentários:

Anónimo disse...

Belas palavras as de Chambote. No entanto tão vazias quanto o discurso de desenvolvimento. Eu não consegui apreender o alcance das palavras de Chambote. Está ele a sugerir que para que haja desenvolvimento é necessário abordar as puestões de desigualdade de riqueza e de poder? Como é que se faz isso, já que Chambote não-lo diz? Seria proclamando uma revolução igualitária? De toda a forma, todos os países que se desenvolveram abordaram antes a questão da diferença de riqueza e de poder? Do meu ponto de vista está-se a colocar uma falsa prioridade. Referir também que a pobreza dos nossos países não se explica pela diferença interna das relações de riqueza e de poder. GM

Kanyoza disse...

Caro anonimo GM,

Me parece que o texto de Chambote visa chamar atencao ao uso de palavras sem o minimo de senso critico. Ele nao ataca a ninguem, mas tenta chamar a consciencia a maneira como devemos encarar as palavras "santas" de combate a pobreza. Em vez de frustrar os jovens com discursos acho que e bom oferecer-lhes outro menu de leitura sobre os problemas.

Chambote usou seu direito constitucional para dar seu ponto de vistas e nao solucoes de desenvolvimento. Se GM esta no Governo entao da solucoes pois foi por isso que votamos. E obrigacao do Governo e nao favor. Se GM nao aprendeu deste texto, creio tambem que nem os outros tres textos (II Conferencia IESE) que versam sobre discurso voce tenha aprendido: lamentavel.

Para ja, qual e a sua ideia GM sobre o discurso de desenvolvimento em Mocambique? Podes investigar e sera trabalho facilitado para si. Sugestao: (i) pega os tres textos publicados na Conferencia do IESE e faca leitura analitica; (ii) faca-se conhecer sua opiniao de cidadao activo e comprometido com desenvolvimento integral de Mocambique publicando essa investigacao; (iii) nos haveriamos de aprender de si tambem, e porque nao? Nao ha conhecimento acabado. E pacifico assim compatriota!?

Bom, continue GM nessa tua noitada de caca a pirilampos num pantano.

Anónimo disse...

Caro ccnterraneo Raul Chambote:
foi c/ imesa alegria k descobri estar a estudar na Univ.de Birmingham; sou igualmente estudante na Univ. de Bath e gostaria de o poder contactar atraves do m/ e-mail:
jclpmz@hotmail.com
saudacoes
Jose Carlos Lopes Pereira

Anónimo disse...

Caro Kanyosa, também usei do meu direito constitucional de discordar. Ou acha que o único que tem o direito a expressar suas opiniões é o Chambote? Qualquer opinião veiculada publicamente, incluindo a do sr Chambote, é susceptível de ser interpelada. GM

Reflectindo disse...

Em que ficamos? Chambone não escreveu algo que sirva para Mocambique? Porquê? Quando e como é que se escreve algo para o país? Será que os decisores e os aspirantes a decisores já pegaram o texto para ler com atencão e sem preconceitos o que Chambone escreveu, para tirar algo que seja aproveitoso? Apoio-me à sugestão de Kanyoza. Tenho receio que esta desqualificão do trabalho de Chambone seja a semelhante à marginalizacão de certos compatriotas mesmo voltando para o país com doutoramento (PhD). Seriamnete falando temos esses casos e alguns aqui os conhecem.

Reflectindo disse...

Minhas desculpas para Chambote, pois no último comentário escrevi Chambone em vez de Chambote

Anónimo disse...

No reconhecimento de talento de uns, estara quase sempre implicito, o reconhecimento de nao-talento de outros.

Abdul Karim

Anónimo disse...

Não percebo algumas pessoas. Especialmente o Reflectindo está a espantar-me. Não escreveu ainda há pouco que a característica que diferencia o país onde reside da Polónia que conheceu em viagem de estudos é a elevada propensão para o debate, para a livre circulação de ideias que é elevada num e escassa noutro país? Como é que agora vem advogar que debater e discordar com um ponto de vista é falta de reconhecimento com um autor? Aí no país onde vive as pessoas aceitam e batem palmas para tudo o que qualquer autor escreve? Muita gente pensa que "criticar" apenas deve ter um sentido. Que devemos apenas "criticar" o governo. E, entre nós, só palmadinhas nas costas. Espero que o amigo Chambote não se deixe enredar nessa cilada. Quem debate consigo é porque lhe respeita. Eu não debateria com uma pessoa que desprezasse intelectualmente. GM

Raul Chambote disse...

Caro compatriotas,

Obrigado pelos comentarios. O meu texto nao tem nada de especial, senao ecleticamente tentar interrogar-me a mim mesmo se (i) entendo o que falo, defendo e encorajo aos outros fazer; (ii) se sou coerente com o (i).

Esse texto foi pela primeira vez referido aqui, se nao me engano dia 4 de Janeiro de 2008, muito antes de eu ir a Birmingham. Canal de Mocambique foi o primeiro jornal electronico a publicar. Fi-lo com timidez. Depois ganhei coragem.

O que mais me interessa neste momento e ter vossas criticas e comentarios como poderia melhorar o trabalho. O texto incomoda porque nao poupa a mim, incluindo a mim mesmo que usa o discurso de desenvolvimento para criticar o discurso de desenvolvimento.

Anónimo disse...

O texto de Chambote merece uma leitura atenta. O cruzamento de ODMs, PARPA e NEPAD aparece curiosamente interessante. Recomenda-se leitura, pelo menos os governantes podem ler quando regressam de seus afazeres ou das ja iniciadas campanhas politico-eleitorais

Anónimo disse...

Alguem notou que no trabalho de Chambote, logo apos a descricao do filtro triplo de Socrates, como esta descrito e analizado a atitude neo-liberal no Ministerio de Educacao de Mocambique?

O que fazemos em Mocambique com o neo-liberalismo foi semelhante ao que fizemos com o marxismo-stalinenismo. Tinham-nos convencido que ela o marxismo-leninismo.

O trabalho pode ter uma e outra fraqueza, mas e poderosamente critico e vale a penar consumir o humor e a satira nele contido