12 outubro 2007

A propósito dos chineses papões de Inhambane

"Lenda urbana é um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" - Jean-Bruno Renard
O boato dos chineses papões de Inhambane tem as mesmas características daquele que aparece regularmente nos bairros periféricos de Maputo: alguém estranho que num carro de vidros fumados alicia crianças para as raptar e as levar para a África do Sul. O nome é o mesmo: tatá papá tatá mamã. O boato do ente papão fantasma, misterioso, perigoso, atravessa a história do país com uma mesma matriz, ainda que a morfologia varie: pode ser o chupa-sangue ou a intenção de matar gente pela cólera com a introdução de cloro na água ou uma remessa de cobras mágicas enviada por um ente perverso com intenções obscuras*. Já agora, para alargarmos a amplitude do que julgo ser a mesma família de fenómenos, leia ou recorde o fenómeno do chupa-cabra no Brasil (mas também ocorrido em outros países das Américas), para o qual uma leitora brasileira me chamou a atenção (veja o seu comentário). Leia aqui e aqui.
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*No dia 6 de Abril de 2000 a Rádio Moçambique (RM) apresentou no seu programa noticioso das 6 horas uma reportagem sobre os dramas vividos numa escola primária situada no distrito de Jangamo, província de Inhambane, no sul do país, na qual 200 alunos estavam com as aulas paralisadas pelo facto de muitas cobras, fugidas das cheias (que afectaram especialmente o Sul e o Norte de Moçambique, matando cerca de 700 pessoas, destruindo milhares de casas e danificando centenas de infra-estruturas, aí compreendidas as de fornecimento de energia e água), terem ocupado as salas e as redondezas do estabelecimento. Interrogado por um jornalista da RM sobre a origem do fenómeno, o director da escola afirmou que se tratavam de cobras mágicas, enviadas expressamente por alguém que importava descobrir. Para o efeito, os “velhos” do local tinham sido contactados, após o que preparam cerimónias especiais destinadas a localizar e a neutralizar o proprietário dos ofídios.

2 comentários:

Aut disse...

Talvez também se enquadre no tipo de fenômeno referido a série de ataques do 'chupa-cabra' que há anos atrás aconteceu no Brasil e em outras regiões da América Latina.
Há bastante coisa a respeito na web.

Carlos Serra disse...

Obrigado, Aut. Vou colocar uma adenda alusiva na postagem.