05 maio 2006

Antropologia e Africanos

A antropologia, no discurso colonial instituinte de um Outro barbarizado, a-historicizado e, frequentemente, diabolizado[1], situou sempre os Africanos numa paisagem imutável, à qual Tylor, Frazer, Hegel e Lévy-Bruhl e Tempels, entre outros, emprestaram os utensílios e as categorias do pensamento «pré-lógico» e da vida «tribal», ainda hoje vigentes: animismo, ontologia bantu, totemismo, tabu, magia, rito, ritmo, dança, sexo, etc.
Toda o edifício administrativo-colonial foi construído em África com base nesses utensílios e nessas categorias, recolhidos, coleccionados e difundidos em manuais e em cursos metropolitanos tal como se faz na entomologia. Nos anos 40 e 50, Fortes, Evans-Pritchard, Radcliffe-Brown e Daryll Forde trouxeram-lhes a chancela do trabalho científico comparado: o político pré-estatal e o parentesco robustecem o edifício com uma sólida argamassa naturalista[2].
_____________________________
[1]Veja, a este último propósito, Mouralis, Bernard, L'Europe, l'Afrique et la folie. Paris: Présence Africaine, 1993.
[2]Fortes, M., and Evans-Pritchard, E. E. (eds), African Political Systems. London/New York/Toronto: Oxford University Press, 1970; Radcliffe-Brown, A. R., e Forde, Daryll, Sistemas Políticos Afrianos de Parentesco e Casamento. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1974.

Sem comentários: