A antropologia, no discurso colonial instituinte de um Outro barbarizado, a-historicizado e, frequentemente, diabolizado[1], situou sempre os Africanos numa paisagem imutável, à qual Tylor, Frazer, Hegel e Lévy-Bruhl e Tempels, entre outros, emprestaram os utensílios e as categorias do pensamento «pré-lógico» e da vida «tribal», ainda hoje vigentes: animismo, ontologia bantu, totemismo, tabu, magia, rito, ritmo, dança, sexo, etc.
Toda o edifício administrativo-colonial foi construído em África com base nesses utensílios e nessas categorias, recolhidos, coleccionados e difundidos em manuais e em cursos metropolitanos tal como se faz na entomologia. Nos anos 40 e 50, Fortes, Evans-Pritchard, Radcliffe-Brown e Daryll Forde trouxeram-lhes a chancela do trabalho científico comparado: o político pré-estatal e o parentesco robustecem o edifício com uma sólida argamassa naturalista[2].
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[1]Veja, a este último propósito, Mouralis, Bernard, L'Europe, l'Afrique et la folie. Paris: Présence Africaine, 1993.
[2]Fortes, M., and Evans-Pritchard, E. E. (eds), African Political Systems. London/New York/Toronto: Oxford University Press, 1970; Radcliffe-Brown, A. R., e Forde, Daryll, Sistemas Políticos Afrianos de Parentesco e Casamento. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1974.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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