15 maio 2006

Perguntas difíceis, perguntas fundamentais em sociologia

Quando um sociólogo entra em contacto com as pessoas dos vários grupos sociais, ele está confrontado com muitas coisas ao mesmo tempo.
Um das coisas com a qual ele se confronta, imediatamente, é o conjunto, grande ou pequeno, das diferentes definições da sociedade, da sua história, da sua cultura, etc.
Naturalmente que o sociólogo faz as perguntas que acha que deve fazer, mas pode acontecer que ele as faça de tal maneira que um ou dois ou mais grupos sociais achem que ele está do lado contrário do deles. Frequentemente colocar questões implica riscos sociais.
Por exemplo, se um sociólogo for à Pereira do Lago e perguntar a membros da Frelimo se eles não acham que chegou a altura de a Renamo governar, é evidente que será muito mal recebido e eventualmente correrá riscos de um certo tipo. Ou se perguntar se eles não acham que no panteão dos heróis nacionais deviam figurar também os heróis da Renamo.
Da mesma maneira, se o sociólogo for à sede da Renamo e perguntar a militantes desse partido se não acham que a Frelimo merece continuar a governar, as consequências não serão diferentes. Ou se perguntar se aceitam os heróis da Frelimo.
Os sociólogos estão, na verdade, confrontados com sentimentos, sentimentos vitais, aceites sem discussão. E como um dia escreveu sociólogo americano Everett Hughes, “os sentimentos não estão à procura da resposta, eles são a resposta”. [*]
Tudo, portanto, depende das boas perguntas e da nossa coragem e da nossa honestidade em fazê-las. E, já que referimos esse excelente sociólogo, recordemos o que um dia ele escreveu.
Numa tradição que, de certa maneira, remonta a Weber, os sociólogos acham muitas vezes que quando os trabalhadores produzem ostensivamente menos do que é suposto produzirem, isso faz parte da luta permanente entre trabalhadores e empregadores. Semelhante posição postula que existe um nível adequado de produção determinado por alguém (por exemplo pelo empregador) e não pelo trabalhador.
Ora, segundo Everett Hughes, devemos deixar de pensar dessa maneira e sabermos colocar a boa questão, a saber: de que maneira os diferentes níveis de esforço são determinados nas diversas organizações laborais (indústrias, hospitais, universidades, administrações públicas, etc.) e segundo os diferentes tipos de trabalhadores (quadros dirigentes, membros de profissões liberais, estudantes, burocratas, trabalhadores manuais qualificados e não qualificados, etc.)? [*]
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[*]Hughes, Everett C., Les sociologues et le public, in Le regard sociologigue, Essais choisis. Paris: Éditions de l´École des Hautes Études en Sciences Sociales, 1996, p. 295, ênfase no original.
[*] Ibid., pp. 297-298.

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