12 maio 2006

A mola nos hospitais

De acordo com um estudo efectuado pelos investigadores Fátima Colete, Maria Cossa, Teles Huo e Rogério Batine, em três unidades hospitalares situadas em Nampula, Beira e Maputo, dois medicamentos são invariavelmente receitados a partir de um ou dois sintomas: cloroquina e paracetamol (ou, ainda, aspirina). Isto provoca protestos dos doentes e seus acompanhantes, que, muitas vezes, acham que o pessoal hospitalar não quer verdadeiramente saber do sofrimento. Quando não há uma inspecção médica aprofundada e, especialmente, quando não se dá uma injecção, as pessoas indignam-se. Além do mais, existe a convicção forte de que o dinheiro tudo vence, de que serventes e enfermeiros (os verdadeiros donos [axinini] do hospital, como dizem os doentes em Nampula), só atendem correctamente, só são carinhosos quando o doente tem mola [dinheiro], quando podem ser corrompidos. Com dinheiro [mandar cash, como muitas vezes se diz] podem evitar-se as longas horas de espera, a indiferença, a ligeireza do atendimento e o receituário habitual da cloroquina e do paracetamol.

Um depoente: "Quando você vem aqui no hospital sem dinheiro o caso é sério, não te olham e se te olham sempre é a mesma medicação, cloroquina e aspirina, volta quando acabar, nem injecção te dão (unidade hospitalar da cidade da Beira)."

Outro depoente: "Agora só funciona o dinheiro. Se você tirar 50.000,00MT, dar a uma enfermeira, você é atendido logo." (unidade hospitalar da cidade de Nampula).
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Pesquisa realizada em 2001.

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