Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
29 maio 2006
Sobre a origem das capulanas
Num belo texto, Maria de Lurdes Torcato escreveu que a origem da capulana continua um enigma, mas que na África oriental falante de Swahili se diz que a maneira de vestir a capulana surgiu no século XIX “quando as mulheres comçeram a comprar lenços (em Swahili diz-se leso) de tecido de algodãp estampado e colorido, trazido pelos mercadores portugueses do Oriente para Mombaça” [1].
Ora, sejam quais forem as suas modalidades modernas, a capulana mais não é, em meu entender, do que uma descendente do antigo bertangil (ou bertangim), tecido de algodão vermelho e azul fabricado na Índia (Surate, Cambaia, Diu e Damão).
Todo o comércio em Moçambique assentava em dois artigos básicos: o chamado pano (mais tarde bertangil, vindo da Índia) e a missanga (especialmente vinda de Veneza na gestão colonial portuguesa).
E a actividade mercantil ligada aos tecidos, na sua extensão e profundidade, foi sempre menos actividade de Portugueses, do que de Indianos.
Por hipótese, foram os tecidos indianos que contribuíram para a ruína da indústria local das famosas machiras zambezianas, panos de fio grosso (por vezes também fino) faricados a partir de algodão localmente cultivado, estando a fiação e a tecelagem a cargo dos homens ainda no século XIX.
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AAVV, Capulanas & Lenços. Maputo: Missanga, 2004, p. 21.
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1 comentário:
Adorei ler este seu estudo ...voltarei para fazer mais descobertas sobre a minha terra .
Bom fim de semana.
Beijão grande
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