Dizes-me que queres estudar a sociedade? Acho isso uma coisa muito meritória, até porque o dizes com esse ar sério, profundo.
Mas diz-me uma coisa: que sociedade? A tua? O que é a tua sociedade? Mas, enfim, se tua, diz-me: que coisas achas que há lá dentro, nessa tua sociedade? E como a elas chegas? Com as tuas ideias, com aquilo que te ensinaram? E lá vais lá encontrar esses grandes conjuntos genéricos chamados Homens, Mulheres, Jovens, Velhos? E vais usar uma faca, cortando aqui o económico, ali o político, acolá o cultural? E depois dirás coisas elegantes como estrutura sócio-económica, por exemplo? E, já agora, não queres cobrir tudo isso com um creme chantilly tipo ideologia? E não queres que te reserve já um lugar para o próximo congresso das sociedades compreendidas-de-vez?
Mas, aqui entre nós, diz lá sinceramente, estudioso compenetrado: estás mesmo disposto a entrar sem preconceitos nessa tua sociedade? Estás decididamente disposto a deixar na umbreira dessa casa os teus sapatos cheios de prejuízos prontos-a-servir?
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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