"Nós, as mulheres, vendemos na rua para evitar o chamboco do homem sem sentimento sexual. E alguns homens que nós aceitamos porque também temos o desejo sexual, engravidam-nos e fogem deixando-nos com crianças desamparadas, alguns são desses membros da Polícia Municipal, conhecidos por alumwa (que pegam, agarram, mordem - em Chisena). Estes têm farda verde, por isso chamamos também matapa (verdura), mas têm coração de ferro.
Para vendermos bem, temos espalhados os nossos filhos em vários pontos onde chegam os carros, já que os mesmos agora utilizam esse meio.
Os miúdos quando vêem o carro dos alumwa batem as latas, vêm a correr ou arrebentam balões dos preservativos JEITO, assim nos alertam de qualquer suspeita da Polícia Municipal.
Só que às vezes somos surpreendidas porque os miúdos também se metem em brincadeiras, mas quem consegue foge com o seu cesto ou com os produtos e eles agora não nos perseguem, só nos olham com olhar de leão esfomeado e às vezes alguns lançam um sorriso como quem diz: hoje te safaste, mas na próxima verás a minha magia e rasteira e vais cair na minha rede."
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Extracto do diário de campo de Inácio do Rosário, um dos meus investigadores na cidade da Beira investigando precariedade social (2001)
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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