13 março 2010

O risco do ensino superior cura-tudo (3)

Mais um pouco da série.
O surgimento do instituto referido no primeiro número não pode ser atribuído ao acaso ou a um mero episódio de oportunismo.
A criação do instituto inscreve-se, rigorosamente, na lógica de mercado que permeia a cadeia das universidades e dos institutos superiores do país, na lógica da competição de mercado.
O conhecimento académico não é mais um nobre produto encerrado nas fronteiras da epistemologia em si, mas um produto crescentemente mercantilizado, um produto mergulhado cada vez mais na concorrência da produção e da venda de mercadorias. Números, quantidades, cursos de empreendedorismo, de negócios, cursos de todos os tipos, tudo isso tem, hoje, a mesma natureza mercantil que a concepção de um curso de teologia do qual faça parte uma cadeira de demonologia (tenho por hipótese sensata a de que até os demónios operam hoje na lógica de mercado).
(continua)

1 comentário:

ricardo disse...

Muito curiosa a V. hipotese de hoje, quando ainda hoje ouvi Anacoreta Correia, um europeu nascido em Angola, a dizer que na elite da politica e economia do Primeiro Mundo, o que mais impressiona no historial de um candidato a emprego, nao sao os atributos tecnicos, nem as cartas de recomendacao. Mas sim, a experiencia social com outras comunidades, nomeadamente as mais pobres. Dizia por exemplo que, nos EUA, era de grande valia um eng. revelar que havia estado no Terceiro Mundo em regime de voluntariado.

Bem dizia Mafalda de Quino, no hemisferio sul, vivemos de cabeca para baixo. Enquanto quanto que no norte...