18 março 2010

Inspecção de viaturas não dá para Africanos? (2)



Mais um pouco desta série.
Tomando em conta o debate em geral e as fontes apresentadas no primeiro número, creio ser possível apresentar a estrutura da argumentação em curso com sete pontos, assim:

1. Todos sabemos que as estradas estão em más condições.
2. É verdade que a maior parte das viaturas em Moçambique está em mau estado técnico;
3. Argumenta-se que os chapas são um grave problema! Grave?! Mas os chapas são "autênticos heróis na luta pelo transporte das pessoas" (jornal "Domingo").
4. Penetremos mais profundamente na realidade: de acordo com "estatísticas disponíveis", as principais causas dos acidentes rodoviários têm a ver não com o mau estado técnico das viaturas, mas com problemas dos condutores (álcool, excesso de velocidade, ultrapassagens perigosas e inexperiência) ("Domingo")
5. Os meios usados na inspecção das viaturas são sofisticados, pertencem ao Primeiro Mundo, a regras e a exigências diferentes, nós estamos no Terceiro, com dificuldades evidentes, com viaturas não menos evidentes, evidentemente;

6. Acresce que o Estado quer tudo resolvido num ápice, o mais depressa possível, em seis meses. Um Estado que transfere para os cidadãos problemas dos quais ele também é responsável.
7. Conclusão: sejamos tolerantes, enquanto o Estado não arranja as estradas (mas não só) façamos inspecções (se tivermos mesmo de as fazer) compreensivas, em última análise afro-moçambicanas, criemos Inspecções Obrigatórias Adaptadas a Estradas e Viaturas do Terceiro Mundo na Particularidade Moçambicana.
Pedido: peço aos leitores que me corrijam caso achem errada a estrutura de argumentação.
(continua)

20 comentários:

umBhalane disse...

Concordo com a conclusão, com especial ênfase para "em última análise afro-moçambicanas".

Elementar.

Dever-se-á adaptar o que de melhor houver às realidades do alvo - a sociedade “auto” de Moçambique, e o "terreno" em que se insere.

E aí é que está a arte.
Em todo o mundo, em toda a natureza.
Quem se não adaptar, "morre".

Agora o princípio está certo, e deve ser inabalável.

Discuta-se a sua implementação, a bondade da sua execução - afro-moçambicana.

Facilitação.

Abdul Karim disse...

UmBhalane,

100% de acordo.

Afro-mocambicanas, alias esse deve ser o principio em tudo o resto.

Se se conseguir "adaptar o que de melhor houver", entao o desenvolvimento, a pobreza acabam um tempo recorde !

Ai fomos inteligentes e artistas, porque batemos a pobreza com criatividade.

Anónimo disse...

Concordo com o professor. Eu acho que esta pressa mostra que o governo deve estar a correr atras de alguma coisa. E nós não sabemose por isso desconfiamos. Porque tanta pressa? Por que nao introduzir este assunto por partes? (Primeiro uns carros, depois outros e assim sucessivamente?). Porque querer as as coisas tão rapido. Os pontos 6 e 7 da sua analise sao muito claros.
O governo coloca/nos impostos super elevados para a importação de viaturas e de peças. Alguns impostos sobre impostos. Algumas coisas temos que pagar duas vezes. Não cria nenhumas facilidades para que as coisas aconteçam e agora vem com exigencias. Os chapas que sao, de facto os herois desta cidade, com todos os problemas, não podem manter os seus negocios. hoje em dia negocio de chapa é negocio de pobre. Nao dá muito! (so como exemplo em Durban o chapa custa 3 randes para qualquer viagem e eles andam limpos e decentes). Como é que se pode exigir muito destes senhores. Isto tirando os aproveitadores da Policia Municipal que passam a vida a incomodar os transportadores e e extorquir-lhes dinheiro...

Se por um lado admito que as estradas estão num caos, também não posso deixar de admitir que nós somos como o nosso governo: Não fazemos as manutençoes periodicas às nossas viaturas. Só vamos ao mecanico, quando a coisa já está preta. O mesmo com o médico, e com as casas e com tudo o que nos rodeia. Não temos o habito de fazer manutenção. Por isso estamos uns para os outros.

Acho que temos todos que mudar e começar a olhar mais por nós e pelas nossas coisas. O Governo a não pressionar tanto o cidadão. O cidadão deveria cumprir com a manutenção periodica da sua saude e dos seus bens. Isto nos ajuda a conservar o que é nosso. Com isto ganhamos todos.
Um abraço

Anónimo disse...

Data de Inspeccao: 2010.03.19
Aprovado
Proxima inspecção ate: 2011.03.19

Garantias (de optimo estado) no intervalo destas datas para a viatura... com o actual nivel de estradas, que por sinal ate ao ano 2011 assim ou pior iram de certeza apresentar-se (Registemos o estado actual com algumas fotos para confronto ate lá).

Tento resgatar a moral com que avançam dirigentes nossos quando de cabeça erguida (para as nuvens) proferem licoes que nao aconselho a nenhum compatriota uma aventurada viagem de analise...

Uma certeza: as poupanças dos nossos policias iram disparar positivamente, e de cabeças confortaveis de certeza os PT's diram bem mesmo antes do habitual informe anual "O estado da nação, nao poderia estar melhor!".

Mais nao disse... "olhar atento".

kavsnipper

ricardo disse...

Nao concordo com a Conclusao. Parece-me ser sarcastica.

E possivel explorar um meio-termo:

1-Em definitivo, o Estado nao e capaz de garantir que as estradas estejam todas em boas condicoes, porque:

a) Nao tem capacidade financeira, tecnica nem logistica para tal;

b) A qualidade da construcao das mesmas e MA, mesmo "que convirga teoricamente com padroes da UE, etc., etc.". Por causa das luvas, erros de engenharia, materiais inadequados ao clima e meio ambiente, etc.

2- As Inspeccoes tem de ser feitas, porque:

a) E um padrao determinado pela integracao regional na SADC (assim e em todos blocos do genero);

b) Porque AJUDAM a reduzir a sinistralidade nas estradas;

c) Porque incutem a nocao de cidadania responsavel por parte de quem possui um bem potencialmente letal (imaginado eu que, se fosse licenca de porte de arma, as armas TAMBEM sao inspeccionadas, ou nao sao?!).

Sendo assim, eu proporia:

Passo 1- Concessionamento das principais auto-estradas de Mocambique, em moldes similares aos da N4, impondo a estas o padrao tecnico minimo exigido pelas inspeccoes;

Passo 2- Sempre que algum veiculo circulasse nestas vias, deveria sujeitar-se aos criterios da inspeccao;

Passo 3- Impor as importadoras de veiculos usados em Mocambique, a sujeicao a inspeccao pos-desembarque antes das mesmas serem legalizadas pelo INAV, responsabilizando este organismo por qualquer incuria ou falha no processo. Incluir o preco da inspeccao no valor final da venda;

Passo 4- Incentivar fiscalmente por um periodo cinco anos, todas importadores de veiculos usados, transportadores publicos, mediante o numero inferior de ocorrencias de veiculos em mau estado de uso, para permitir a estes agentes economicos:
a) Ou a permanencia no negocios, mas com produtos de melhor qualidade;
b) Ou recuperacao do investimento e lucros iniciais, na perspectiva de mudanca para um outro ramo economico mais ajustado ao seu perfil de negociante;
c) Ou ambas;

Passo 4- Rever imediamente a politica dos transportes publicos urbanos, implementando ja o concessionamento em TODAS as rotas, apenas para veiculos que cumprissem as normas da inspeccao e outras (sobrevivem os melhores, os consumidores agradecem), encorajando o cidadao a usar mais estes meios para se locomoverem e a deixar o carro particular em casa;

Passo 5- Limitar a circulacao na SADC, apenas a veiculos que passaram pela Inspeccao;

Passo 6- Criar condicoes atractivas de investimento nos transportes ferroviarios, fluviais e maritimos urbanos e suburbano (P.e. isencoes fiscais durante XXX anos, etc. etc.).

Passo 7- Agravar o Imposto de Veiculos em 200% para todas as viaturas que nao tiverem sido inspeccionadas. E incrementar progressivamente esta taxa ate a um limite em que as viaturas teriam que ser definivamente retiradas de circulacao e transformadas em sucata.

Carlos Serra disse...

Tentei que a conclusão estivesse em linha com o pensamento dos contra-inspecções.

Abdul Karim disse...

Sr Ricardo,

1- so desculpas pro governo do dia.

2- muitas formas do cidadao pagar.

alguma razao especial ? ou ja 'e tendencia natural do meio ambiente envolvente ?

Reflectindo disse...

1. Nos países nórdicos todas as viaturas, incluindo atrelados vão anualmente à inspeccão.

2. Os nossos compatriotas e proprietários de viaturas têm razão de protestar contra o estado das estradas. Mas eu acho que há sempre um problema em Moçambique. Por exemplo, os motoristas/proprietários de viaturas preferem arriscar as suas próprias vidas e a dos seus concidadãos em protesto contra o estado das rodovias. Em condições normais não protestam. Se o governo não exigir inspecção das viaturas, ninguém vai protestar contra o estado das rodovias. Portanto, que paguem as suas vidas, a dos familiares e outros concidadãos. Este é também o problema dos professores que nunca protestam contra o governo pelos problemas salariais, mas são os pobres alunos, mais pobres do que os professores a pagarem as favas. E se o aluno não consegue melhorar a vida do professor, reprova. Para os nossos enfermeiros ou pessoal médico quem paga as favas sãos os pobres pacientes; para os polícias quem paga as favas são os motoristas. Assim vai a nossa vida, a nossa maneira de protestar.

Sou da opinião, que os proprietários das viaturas têm que aceitar a inspecção dos seus carros. E sem relacionar com a inspecção em si, eles podem protestar contra o custo da inspecção e o estado das rodovias.

3. Fartei-me de rir por causa da expressão: “Inspecção de viaturas não dá para Africanos”. Segundo a moda, o jornal Domingo está na linha correcta. Afinal, não é assim como se diz quando falamos de democracia, direitos humanos e boa governação?

4. Não concordo com a conclusão, por a inspeccão tem a ver com a nossa própria seguranca, as nossas vidas.

ricardo disse...

Karim,

O governo SOMOS TODOS NOS.

Os nossos impostos e que fazem um Governo. Voce quer uma estrada boa la? Onde e que pensa que vai buscar o dinheiro?

Hipoteses:

1- Se eu lhe disser que e do bolso dos outros, voce encolhe os ombros e assobia para o lado (faz uns discursos inocentes de "preocupacao"), nao e?

2- Se eu disser que e do V. bolso que ele vira, ai revolta-se e sente-se discriminado (e dispara em todas as direccoes)!

Se e legitimo exigir MAIS DEMOCRACIA, e bom lembrar que isso tem o seu PRECO. As ditaduras sao minimalistas, mas sao baratas.

Portanto nao estou a desculpar Governo nenhum. Apenas estou a mostrar um caminho para resolucao pacifica de um problema, que sirva os interesses de muitos e nao de alguns.

Se preferir a via habitual "MADE IN MOZAMBIQUE', a forca, entao, pode crer que em Junho todo mundo vai correr as inspeccoes CHEIO DE MEDO de ficarem sem os carros, quanto quer apostar???

E ai, vai ser paga e nao reclama!

Se alguem gritar leva uma porretada. E ate os doadores vao fechar os olhos, porque na terra deles e normal cumprir a lei. E nem a moralidade ira proteger esta classe media muito acima do nivel de pobreza dos 90% da populacao que dao votos.

Agora mesmo, vao aumentar o combustivel, o que e que pensa que vai acontecer? Nada!

Portanto, decidam-se, enquanto tiverem tempo para tal!

Abdul Karim disse...

Ricardo,

Tenho a absoluta certeza que nao ficar convencido, esta focalizado em defesa do seu ponto de vista, de classe media-alta, carro proprio, salario e computador.

solte-se, veja com os olhos de quem so ganha US$ 150, juntou 5 anos pra comprar um carrinho de US$ 2.000 e so tem gazolina pra US $ 15.00.

essa classe media que descrevi, 'e media baixa. considerada media, por srs como Ricardo, que estao focalizados so em si.

Solte-se, e ponha-se nos "sapatos" de quem vive limitado, apertado. apertado mesmo, e se quizer ver mesmo a verdade, imagine-se a viver com US$ 1.00 por dia, ai nem precisa de "sapatos" porque eles nao tem, andam descalcos.

no dia que conseguir fazer esse exercicio, ver-se na qualidade de quem nao tem, vai perceber porque tem tendencia a escrever tanto, pra justificar pouco.

ricardo disse...

Diga-me la Karim,

Nao India, onde V.Excia esta, a classe media-baixa anda de TATA Maruti, ou anda de Bajaj? Ou anda apenas de comboio?

Qual e a necessidade que um pobre tem de carro turismo para ir ao servico? Que servico?

Nao confunda, quem esta na dianteira das reclamacoes e a classe media, que tem TV em casa, le jornais, luz e agua canalizada.

E nao os utentes (sem alternativa) dos nossos precarios transportes publicos. A classe baixa, anda de chapa (quando pode pagar). Ou a pe (a maior parte das vezes).

Isso sei eu. Porque tambem ja passei pelo mesmo. Mas cresci.

Abdul Karim disse...

Ricardo, mistura.

Mistura sempre, sempre convem misturar, assim 'e mais confortavel.

Entendivel, limitativo, defensivo, distorsivo.

Manutencao do Status Quo.

ricardo disse...

Distorsivo e chamar pobre a quem compra algo por 2000 US$ e nao pode gastar mais 15 US$ para conserva-lo devidamente...

Em bom Portugues, chama-se a isso luxo na miseria. Ha muitos por ai nesta urbe, com potentes bolides e fatos de marca impressionando meio mundo, mas que matabicham agua quente todos os dias e comem enlatados ao almoco e ao jantar.

Se ha algum status quo que se tenta preservar aqui em Mocambique, e a "prosperidade" dos que ficam podres de ricos do dia para noite, a custa de uns intestinos bem fortes e algumas viagens intercontinentais.

Coisa que, alias, Gustavo Mavie magistralmente nos descreve esta semana.

Abdul Karim disse...

Nao conheco mavie, nem sei quem 'e... mas de certeza que se o Ricardo o cita com tanta intensidade, deve ser alguem importante.

Continua a misturar, Ricardo.

Sera pouca atencao na leitura, ou me expresso mal ?

ricardo disse...

leia o post#2 da pobreza e percebera...

Abdul Karim disse...

Ricardo,

nao encontrei nada do que o tal importante mavie disse.

Li, 'e extensivo... e mais uma vez distorsivo, para alem de ser limitativo, defensivo e entendivel.

mas deve ser culpa do mavie. ele concorda com as inspeccoes ?

ricardo disse...

Karim...

Eu nao tenho intelecto musculado. Para mim um bom exemplo basta-me para inferir e chegar a outras conclusoes:

Se V.Excia diz:

"...Tenho a absoluta certeza que nao ficar convencido, esta focalizado em defesa do seu ponto de vista, de classe media-alta, carro proprio, salario e computador.

solte-se, veja com os olhos de quem so ganha US$ 150, juntou 5 anos pra comprar um carrinho de US$ 2.000 e so tem gazolina pra US $ 15.00.

essa classe media que descrevi, 'e media baixa. considerada media, por srs como Ricardo, que estao focalizados so em si.

Solte-se, e ponha-se nos "sapatos" de quem vive limitado, apertado. apertado mesmo, e se quizer ver mesmo a verdade, imagine-se a viver com US$ 1.00 por dia, ai nem precisa de "sapatos" porque eles nao tem, andam descalcos..."

Para mim significa que o que voce esta a sugerir E:


1- A MAIORIA DO DONOS DOS CARROS ESTA NESSE GRUPO;

2- Eu INFIRO. A MAIORIA DESTES DONOS DOS CARROS ESTA NO LIMIAR DA POBREZA;

3- Eu INFIRO. LOGO, A MAIORIA DOS DONOS DOS CARROS DEVE FAZER INSPECCAO A BORLA, POR CAUSA DOS REDIMENTOS BAIXOS QUE PENOSAMENTE CONSEGUIRAM;

3- Eu INFIRO. LOGO, SE OS SEUS CARROS APRESENTAREM DEFEITOS, TAMBEM, NAO DEVERAO SER REPARADOS PORQUANTO, TAMBEM OS SEUS RENDIMENTOS SAO BAIXOS.

E muitas mais coisas que eu consigo infirir da sua argumentacao populista e demagogica.

Mas eu, que nestes casos, sou frio e instrospectivo. Nao me deixo levar pelas aparencias. Por isso, Gustavo Mavie satisfez-me porquanto CONSEGUIU DEMONSTRAR COMO O CONSUMISMO E O SUPERFULOU CONTRIBUEM para o DONO DO CARRO VIR AMPLIFICAR ESTA CONCLUSAO NO BLOG:

"...solte-se, veja com os olhos de quem so ganha US$ 150, juntou 5 anos pra comprar um carrinho de US$ 2.000 e so tem gazolina pra US $ 15.00.

essa classe media que descrevi, 'e media baixa. considerada media, por srs como Ricardo, que estao focalizados so em si..."

Daqui para frente e uma questao de vontade de perceber o que os outros estao a dizer.

Obviamente, num post da pobreza, NAO ME INTERESSA FALAR DE INSPECCOES DE AUTOMOVEIS, como factor primario da pobreza. Justamente, porque nao e!!!

Abdul Karim disse...

Ricardo,

Continua a escrever muito, ja comeca a distorcer de novo.

Veja os meus coments do inicio neste post e veja os seus.

Depois tente fazer uma auto-avaliacao, preferencialmente antes de pegar no Prozac.

Sabe que medicamentos como Prozac alteram a nossa capacidade de raciocinio quando estamos sob efeito dele, nao 'e ?

ricardo disse...

Desculpe-me...

Mas voce tem um baixo nivel de argumentacao. Faca-o para o seu publico.

Pegando no que diz aqui:

"...Continua a escrever muito, ja comeca a distorcer de novo.

Veja os meus coments do inicio neste post e veja os seus.

Depois tente fazer uma auto-avaliacao, preferencialmente antes de pegar no Prozac.

Sabe que medicamentos como Prozac alteram a nossa capacidade de raciocinio quando estamos sob efeito dele, nao 'e ?..."

Retirando a adjectivacao e comentarios ironicos, nao acrescenta nada a este mundo.

Por isso, passo e prefiro deixa-lo a falar com os seus chakras...

Abdul Karim disse...

Ricardo,

Ja comecou a baixar o meu nivel. tudo bem, como queira.

Eu nao estava a ser ironico, e tudo o que disse esta escrito.

leia e entenda, nao parece tao dificil assim.