31 dezembro 2008

"Indispensável genuflexão" no blogue da Yoani

Estava para sair, mas decidi prestar atenção a um blogue que o Umbhalane acabou de me sugerir, o blogue da cubana Yoani Sánchez, vencedora absoluta do BOBS2008. E dele extraí esta admirável passagem, em espanhol: "El tedio de este fin de año me llevó a ver el monótono espectáculo de nuestros parlamentarios en su última reunión del 2008. La fórmula de plantear problemas sin señalar las verdaderas causas, volvió - este diciembre - a la sala del Palacio de las Convenciones. Todo un estilo de decir, que comienza con una reverencia inicial más o menos así: “Nuestra Revolución ha hecho mucho por mejorar el comercio minorista, aún así subsisten problemas…” Sin esa indispensable genuflexión, se podría incurrir en un atrevimiento no permitido o ser señalado de hipercrítico e ingrato."
Digam-me lá se na nossa Assembleia da República existem coisas diferentes...

Feliz 2009 independentemente do calendário!

Vamos lá ver: no judaísmo já se vai, creio, em 5770 (calendário lunar). Nessa religião não se comemora nem natal nem fim-de-ano; no Islão também estas datas não são comemoradas. Como o calendário islâmico tem início no segundo da ida do profeta Maomé para Medina, então os crentes dessa religião devem estar no ano 1429. No hinduísmo, deve estar-se em 2065 pelo calendário lunar.
Então, estais a ver a dificuldade de desejar uniformemente um bom 2009, os calendários variam, o gregoriano não é o lunar, as festas e o seu significado são diferentes consoante as religiões. Mas como tudo se pode resolver com um pouco de vontade permissiva, aceitemos que 2009 é, efectivamente 2009 e não 2008. Por isso feliz 2009 para todos vós!

Cartoon do "Savana"


Cartoon inserto no suplemento humorístico "Sacana" do semanário "Savana" desta semana.

Jovens do 5 de Fevereiro: figuras do ano no "Savana"


De forma original, afastando-se da habitual e anual selecção de figuras do Estado analisadas pela positiva ou pela negativa pela maior parte dos órgãos da informação, o semanário "Savana" escolheu os jovens que fizeram a revolta popular de 5 de Fevereiro como figuras do ano - escolha que consta em grande plano na capa e na página 2. Fazendo-o, o jornal assinalou não querer homologar a violência, mas distinguir "aqueles que saíram à rua para dizer BASTA". Foi com esse basta que o governo tomou de imediato medidas destinadas a evitar a subida dos preços dos combustíveis e dos transportes - acrescentou o "Savana". Por isso o 5 de Fevereiro foi, nas palavras do semanário, um "gesto de cidadania" por parte dos jovens - a maioria da revolta -, a maioria das "classes desfavorecidas"(sic). "A consciência que elas foram adquirindo da sua marginalização do cenário político, da distância que lhes separa do Estado, é que lhes permitiu tornar-se sujeitos e actores históricos. As lutas e inconformismos sociais, de que o 5 de Fevereiro é disso exemplo, são algumas das formas de os excluídos conquistarem a cidadania. Porque ela, a cidadania, tal como a liberdade, não é uma doação do Estado, não é algo que se dá a quem não tem quando a pede, ela conquista-se através de lutas de reivindicação. A violência que presidiu o 5 de Fevereiro é de todo condenável. Mas não devemos esquecer que quando grupos sociais se sentem excluídos e sem alternativas de negociação, fazem da violência a sua ferramenta previlegiada para protestar" (p. 2).
Adenda: na verdade, tal como escrevi na altura, no 5 de Fevereiro o povo saiu da garrafa. E foi nessa altura que cunhei uma expressão que depois foi amplamente usada nos mais variados sectores: sismo social. Certamente alguns recordam-se de que este diário foi a primeira, por vezes a única, mas sempre a mais sistemática e aprofundada fonte de informação e de análise do 5 de Fevereiro, com dezenas de entradas diárias e actualizadas. Recorde, por exemplo, aqui, aqui, aqui e aqui. E, já agora, recorde uma carta que escrevi ao presidente da República a 11 de Fevereiro.

Jestina: tratamento médico na prisão


No Zimbabwe, um juiz ordenou ontem que a activista Jestina Mukoko (frequentemente recordada neste diário) e três militantes do MDC-T -, acusados de recrutarem pessoas para treino militar no Zimbabwe - recebessem na prisão tratamento de médicos à sua escolha. Imagem reproduzida daqui.
Adenda às 16:53: estou a ver mal ou a notícia sumiu do The Herald? Alguém me pode dizer algo? Comentário de um leitor nesta postagem: "De acordo com a advogada defensora dos Direitos Humanos, Beatrice Mtetwa, que entre outros defendeu Jestina Mukoko na sessão do tribunal de anteontem, “o Supremo Tribunal ordenou a libertação imediata, mas contra todas as regras da lei o regime apelou a um tribunal da primeira instância para prevenir a execução do decreto do tribunal superior. Em que Estado de Direito vivemos nós", perguntou a advogada".

Tayo Fatunla



Ao longo deste ano fui-vos mostrando trabalhos dos cartoonistas Zapiro (sul-africano) e Gado (tanzaniano). É a agora a vez de vos convidar a conhecer o nigeriano Tayo Fatunla.

Do semanário "Zambeze" desta semana


Clique com o lado esquerdo do rato sobre a imagem para a ampliar.

Do editorial de Salomão Moyana


É apenas uma parte do editorial do jornalista Salomão Moyana, director do semanário "Magazine Independente". Clique com o lado esquerdo do rato sobre a imagem para a ampliar.

30 dezembro 2008

Zimbabwe: esperando pelos espíritos para entrar em acção

A propósito do título em epígrafe, leia aqui este trabalho de Sibangani Sibanda, publicado no The Zimbabwe Times. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência.

Genocídio em Gaza


"Os bombardeamentos das tropas israelitas sobre Gaza já causaram a morte de mais de 364 palestinianos, segundo os serviços de saúde do território. Destes, pelo menos 62 eram mulheres e crianças, segundo a agência da ONU para os refugiados. O número de feridos ultrapassa os 1.400."

Como vai ser África daqui a 50 anos? (texto de Immanuel Wallerstein)

De Immanuel Wallerstein, a 1 de Maio de 2007: "Como vai ser a África daqui a 50 anos? Claro, de nada podemos estar certos. Mas podemos ter algumas expectativas. Em primeiro lugar, dificilmente as coisas poderiam ficar piores. Na hierarquia internacional dos Estados, os africanos são hoje, de longe, os que mais para baixo estão. As gerações mais jovens reagem a esta realidade de duas formas. Alguns emigram, e alguns começam a estruturar novos movimentos - tentando construir uma segunda onda de lutas de libertação nacional." Confira o texto completo aqui.
Nota: perdoem só agora ter regressado à net.

De novo Marínguè

De acordo com o "Notícias" de hoje, "disparos de armas de diferentes calibres ouviram-se na madrugada de ontem nas imediações da sede distrital de Marínguè, em Sofala". Quem pôs as armas a disparar? O jornal indica a direcção, citando o administrador do distrito: "(... ) tudo começou por volta das 4.20 horas, quando se ouviram explosões no mato na direcção da base dos homens armados da Renamo estacionados na zona de Massala, que dista cinco quilómetros da vila-sede".
Observação: evidentemente que está excluída a hipótese de as espingardas serem da polícia, por exemplo.

Interpretação exemplar

O "Notícias" de hoje tem o seu primeiro plano dedicado a explicar o que se passa no Zimbabwe a propósito da cólera (trabalho que não aparece assinado na versão online). O quadro é o seguinte: a caótica situação do país é da responsabilidade directa do Ocidente imperialista, a cólera tem o seu paralelo na guerra do Iraque onde os americanos bombardearam os sistemas de abastecimento de água, Morgan Tsvangirai é uma mera correia de transmissão do Ocidente ("menino de recados do Ocidente", sic) e por isso não quer partilhar o poder, o MDC é um "partido criado e dirigido pelos governos ocidentais". Intimidar o Zimbabwe significa uma advertência a países africanos que desejem indigenizar a economia. Conclusão: preocupados com o bem-estar do seu povo, Mugabe e o seu regime mais não são do que vítimas do imperialismo insano.
Observação: o jornal The Herald do Zimbabwe - frequentemente referido neste blogue - não faria melhor. Inglórias lutas, as das Jestinas Mukoko do planeta.
Adenda: sugiro a leitura do artigo rabelaisiano do José Chagas aqui.

29 dezembro 2008

Sobre figuras do ano

Aqui e acolá - na televisão, na blogosfera - vou estudando a produção das figuras do ano. Por outras palavras, vou estudando a produção local de heróis, dos nossos deuses profanos. Elegemos A ou B ou C, defendemos com ardor por que o fazemos, porque ele fez isto, ele fez aquilo, por isso merece, etc. E se atribuímos a negativa, se outorgamos a recusa, é porque determinado deus profano não cumpriu a sua missão terrena: a de salvar ou a de endireitar os humanos rebeldes e perversos. E onde quase sempre habitam esses deuses que elegemos ou punimos? Lá em cima, no olimpo estatal.
Assim, parece sermos feitos de algo que nos atrai para cima com a intransigência inexorável com que o ferro atrai a limalha.
Por que deveriam os heróis habitar o rés-do-chão? Por que deveriam eles ser anónimos, gente de sangue popular?

Incwala, Mugabe e Zimbabwe

Decorre na Swazilândia o incwala (festival dos primeiros frutos), cerimónia destinada a reforçar o poder do rei e da nação para o próximo ano. Entretanto, o jornal governamental zimbabweano The Herald afirma na sua edição de hoje que um regimento swazi presente na cerimónia saudou Robert Mugabe pelo seu "heroísmo político". Enquanto isso, o nosso Notícias de hoje refere a morte de mais de 1500 pessoas devido à cólera no Zimbabwe e o agravamento da desnutrição infantil. E finaliza assim a informação: "O Zimbabwe vive uma grave crise económica e enfrenta uma epidemia de cólera, alimentada pelo caos nos sectores de assistência médica e serviços de água e esgotos."

Noé e a classe política

A parte pelo todo e duas vezes

Infelizmente não tenho podido assistir àquele interessante bate-papo da STV no qual o Jeremias Langa coordena uma mesa redonda com António Niquice, Eduardo Namburete e Venâncio Mondlane. E, como se isso não bastasse, hoje, no campus da UEM, apenas pude ver um pouco. Desse lamentável pouco retive as afirmações de (1) António Niquice - a parte não pode ser tomada pelo todo (incursão que disse ser filosófica a propósito da criminalidade em Maputo) - e de Eduardo Namburete - no informe do presidente Guebuza na Assembleia da República a palavra corrupção apenas surgiu duas vezes. Não tive oportunidade de verificar a quem Venâncio Mondlane atribuiu cartões amarelos e vermelhos a propósito do desempenho do nosso governo.

28 dezembro 2008

Maputo chuvada

Uma ligeira paragem na chuva, nesta Maputo chuvada desde manhã, de forma copiosa. Há ruas onde a água estava acumulada de forma desalmada quando por lá passei esta noite. As latas de lixo - lixo que não é removido há vários dias - transbordaram. Mas o mais penoso deve ser a vida dos cidadãos nos bairros periféricos.

Uma vez mais Tutu toma posição contra Mugabe

Segundo a BBC, o arcebispo sul-africano Desmond Tutu, prémio Nobel da Paz em 1984, acusou a África do Sul de perder a moral ao defender Robert Mugabe do Zimbabwe. Usar a força seria uma hipótese a considerar para afastar Mugabe. Confira aqui. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência.
Observação: não é a primeira vez que Tutu toma a posição que tomou, tal como neste diário tenho mostrado amiúde. Mantém-se firme e estrangeiro à pusilanimidade.

As escolhas do "Domingo"

O semanário "Domingo" escolheu as suas figuras do ano: Barack Obama e Armando Guebuza. Escolhas são escolhas, sem dúvida. Deve estar certamente vedado ao semanário eleger figuras como Deviz Simango, edil reeleito na Beira. Para usar o termo que na última página surge na edição de hoje, Deviz deve ser um real galaroz, ele, que nem Frelimo, nem Renamo, conseguiram abater.

Marcadas por serem consideradas feiticeiras



Estas duas senhoras idosas foram consideradas feiticeiras, algures numa província deste país. Escaparam ao linchamento, mas os seus corpos foram irremediável e duramente marcados com a ablação de algumas partes: na foto de cima por uma mão, na foto de baixo por parte de uma orelha. Os linchamentos por acusação de feitiçaria (sejam os físicos, sejam os por morte social), que atingem especialmente as mulheres, serão o tema do próximo livro da Unidade de Diagnóstico Social do Centro de Estudos Africanos. Entretanto, recorde esta minha postagem aqui.

27 dezembro 2008

Em breve de novo em São Paulo

É verdade, voltarei breve a uma cidade que amo: São Paulo. O que é São Paulo? Uma coisa gigante entre o desvario megapólico e o localismo periférico, com nosso gesto mestiço a temperar os extremos e nossa alma nas ondas das diferenças sociais.

Espantar-me na rua (11)

Mais um pouco da habitual série.
1. Maputo vive aquele limbo clássico, vírgula entre a festa e o remanso digestivo, na expectativa de um fôlego mais vigoroso no fim-de-ano. Em Janeiro teremos, para muitos, um apertar-cintos duro. Feito o potlatch, importará depois saber como remendar o dia-a-dia.
2. Aqui estão, em seu doce caminhar e expôr, elas e eles, fogosos uns, habituados outros. Os mais jovens estão na crista do espanto e da conquista, elas afoitas em seu esperar, eles avançadores em seus jeitos de apresamento: cada passo, cada gesto, cada silhueta de ser no entre-dois, é uma aposta na descoberta, no novo, na expectativa do ainda não sentido. Pelo contrário, os mais velhos, esses exibem o hábito, nada resta a não ser a repetição, o viço é a vestimenta de cada coisa, o cansaço a proa da vida. Roupas pesadas e quentes, ícones erógenos cobertos ou descaídos, barrigas salientes, calvícies sonoras, cabelos pintados, gestos iguais, nada surpreende, tudo é conhecido. O combóio não mais se espanta com os carris.

Agravou-se malnutrição infantil no Zimbabwe

De acordo com a Save the Children, a malnutrição infantil agravou-se consideravelmente no Zimbabwe. Por outro lado, metade da população do país carece de ajuda alimentar. Confira aqui. Enquanto isso, não há qualquer sinal de solução política inclusiva (termo na moda), continuando o líder do MDC-T, Morgan Tsvangirai, no Botswana.

1952/2008: 61 golpes de Estado em África?




Consulte a fonte aqui. Se os dados da fonte forem fidedignos, teremos então 61 golpes de Estado entre 1952 e 2008, tendo o último ocorrido há poucos dias na Guiné Conacri. Clique com o lado esquerdo do rato sobre as imagens para as ampliar.

Wade apoia golpistas da Guiné Conacri


Morto Lansana Conté na Guiné Conacri - maior produtor mundial de bauxite e alumínio -, o capitão Moussa Camara pôs-se à cabeça de um grupo de militares revoltosos e, depois, auto-proclamou-se presidente do país. Enquanto isso, o presidente do Senegal, Abdulaye Wade, surgiu a apoiar os golpistas, enquanto o presidente sul-africano, Kgalema Montlanthe, pediu que o poder seja entregue ao presidente da Assembleia da República, tal como prevê a constituição guinense. Foto reproduzida daqui.
Adenda: este parece ser o 61.° golpe de Estado em África desde 1952. Confira aqui.

Que crise?


Um cartoon do tanzaniano Godfrey "Gado" Mwampembwa, várias vezes referido neste diário. Confira aqui.

Sobre o estado da nação

O presidente Armando Guebuza apresentou o seu informe anual de 39 páginas à Assembleia da República (AR), um informe vincadamente de natureza descritiva e quantitativa, com a particularidade de ter começado pelo desporto e a este tema ter dedicado tempo considerável. O estado da nação é bom, concluiu o Presidente. Como se tornou clássico no país, membros da Frelimo consideraram que o informe reflectia a realidade do país e membros da Renamo disseram o contrário, que o informe não reflectia a realidade e que estado da nação é mau.
Tanto quanto se pode perceber do que disseram os membros da Renamo e, em particular, a chefe da sua bancada na AR, Maria Moreno, o estado da nação não pode ser bom quando há problemas criminais graves e disso o discurso presidencial foi omisso.
A forma como analisamos algo como bom ou mau depende sempre do prisma que adoptamos e da posição que ocupamos nas relações políticas. No caso vertente, a Renamo cumpriu o seu papel institucional de partido na oposição: disse maquinalmente o contrário do rival e coroou a sua posição abandonando a sala da AR.
Mas há algo mais profundo. Definir o estado da nação como mau exige instrumentos analíticos bem mais finos do que aqueles usados pela Renamo, exige uma capacidade bem mais vasta do que aquela que consiste em tomar os títulos dos jornais como instrumentos de qualificação ou fazer da fuga de Anibalzinho e da morte dos polícias a razão de ser da crítica. A Renamo teria prestado ao país um serviço bem mais consequente se tivesse sido capaz de analisar, em profundidade, a produção e a reprodução das desigualdades sociais em curso no país no modelo capitalista e, a partir deste ponto focal, inserir e tratar o problema da criminalidade. O que não fez. Independentemente do que um ou outro dos seus militantes possa sustentar de diferente, o geral do partido parece claramente filtrado pela postura acomodatícia centro/direita tão de agrado do seu presidente, Afonso Dhlakama. Partidos da direita não analisam desigualdades sociais: homologam-nas e silenciam-nas. E se nelas entram, fazem-no pelo fait divers.
E aí estamos diante de um fenómeno triste: o da ausência de uma oposição inteligente, verdadeira e analiticamente combativa, de uma oposição claramente opositora e popular que subverta os partidos indigentes, esclerosados pela falta de originalidade e a reboque das esmolas analíticas do partido no poder ou transformados em suas marionetas ridículas, como é caso do Pimo de Yá-Qub Sibindy (sobre este último, leia o que disse no "O País" de ontem, p.6). É neste sentido que a nossa oposição política tem o histórico e subserviente mérito de unicamente apoiar a Frelimo no preciso momento em que julga estar a fazer o contrário.
Adenda: a vermelho estão partes hoje introduzidas, 28/12/08.

26 dezembro 2008

Luso-Afro-Brasileiro


O X Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais a realizar-se entre 4/7 de Fevereiro 2009 em Braga, Portugal, tem temas aliciantes. No que me concerne, além de estar como orador numa mesa sobre linchamentos, serei também orador síntese na mesa "Estratificação, classes e desigualdades sociais".

Conformismo e ruptura

Do editorial do semanário "Savana" desta semana, com o título em epígrafe: "As lideranças políticas fazem-se de alianças e conjunturas. A liderança tem de decidir se este é o momento próprio para politicamente confrontar as alas gangterizadas e corrompidas que, através do sector da Lei e Ordem vêm manifestando abertamente, com sangue e tiros, que estão contra a transformação, contra um país melhor, moderno e desenvolvido. A liderança tem de decidir o espaço de conciliação e acomodação com os sectores que, não sendo claramente a face do crime e do imobilismo, são claramente aliados destes porque, psicologicamente, continuam a sentir que não foram suficientemente compensados pela independência."

Linchamentos como tema no Luso-Afro-Brasileiro




Dois reparos:
1. Não corresponde à realidade o argumento apresentado no resumo do programa do congresso de que os linchamentos em África "parecem estar ligados a situações de reavivamento de crenças mágicas e religiosas em face de anormalidades e situações de anomia que não encontram explicação nem solução aceitáveis no recurso ao direito formal". Primeiro - tomando Moçambique como exemplo -, porque existem três tipos de linchamentos; segundo, porque os linchamentos por acusação de feitiçaria não são nem produto de reavivamento mágico ou religioso, nem alternativa ao direito formal. Este diário está pejado de textos que comprovam o que acabo de escrever.
2. Faltou à comissão organizadora incluir no grupo o Paulo Granjo, que também apresentará uma comunicação.
Clique nas imagens com o lado esquerdo do rato para as ampliar.

Maputo está lixada





Maputo está feia e cheia de lixo não recolhido. Não há indicadores de que o lixo seja recolhido antes do dia 2 de Janeiro. Nas barracas do Museu é um verdadeiro caos, com gente a urinar não importa onde. Na 24 de Julho, vi também gente a urinar para as bases das acácias. Há jornais, plásticos e papel de embrulho espalhados um pouco por todo o lado. Com a chuva caída, a situação agravou-se.

25 dezembro 2008

Monte Mabu: a descoberta que não descobrimos

De acordo com "O País", uma equipa de cientistas ingleses descobriu na província da Zambézia "cerca de sete mil hectares de floresta conhecida como Monte Mabu, rica em biodiversidade. Em apenas três semanas (...), os cientistas, liderados por uma equipa da Royal Botanic Gardens, identificaram centenas de espécies diferentes de árvores, pássaros, borboletas, macacos e novas espécies de serpentes gigantes. As amostras das espécies encontradas pelos cientistas encontram-se na Grã-Bretanha para efeitos de análise."
Observação: sem dúvida que é sempre fantástico que algo de novo seja descoberto. Mas neste caso é ainda mais fantástico que, aparentemente, nem os Portugueses nem nós, Moçambicanos, tenham e tenhamos descoberto o que os cientistas ingleses descobriram. E, ainda por cima, serpentes gigantes. E as amostras das espécies encontradas não estão connosco, mas na Grã-Bretanha. Nesta história de convivermos com o que não descobrimos há décadas senão séculos, decididamente deve haver um gigante problema de okhwiri (feitiço), como se diz na Zambézia.

Rainha Chica zangada com homens e democracia


Segundo o "Notícias" de hoje, Chica Zeca Macajhandgi, régulo - rainha, na designação do jornal - de 792 habitantes do posto administrativo de Chupanga, distrito de Marromeu, província de Sofala, está zangada com os homens e com a democracia: com os homens, pelo facto de os régulos masculinos lhe roubarem partes do seu território; com a democracia, por esta ter trazido partidos políticos e por isso menos respeito pelas ordens e pela disciplina. Mas, com a imponência dos seus mais de dois metros de altura, a rainha - "dama de ferro", na descrição do "Notícias" - afirmou que nada a demoverá do seu papel de guardiã da tradição e da ordem (Caderno de Sofala, última página, ainda não disponível online no momento da postagem).

Corte Suprema do Zimbabwe ordenou libertação de Jestina e de 31 activistas do MDC-T


A Corte Suprema do Zimbabwe ordenou ontem a imediata libertação imediata de Jestina Mukoko e de 31 activistas do MDC-T acusados de recrutar pessoas para receberem treino militar no Botswana, tendo considerado ilegal a sua detenção. Devem estar a receber cuidados médicos, pois alegaram ter sido maltratados.
Observação: uma importante vitória esta, a da independência demonstrada pela Corte Suprema, num país onde a lei está ao bel-prazer do regime de Robert Mugabe.

Zambézia: multiplicam-se assassinatos por acusação de feitiçaria (bispo Massinga)

No decorrer da missa do galo, realizada na cetadral de Quelimane, o bispo Massinga disse que se multiplicavam nas aldeias os assassinatos por acusação de feitiçaria e pediu aos cerca de 12 mil crentes presentes que abandonassem esses actos exterminadores (sic), esses actos horrendos (sic). Mata-se só porque se suspeita que alguém é feiticeiro - afirmou (Rádio Moçambique, programa especial esta manhã).
Entretanto, no seguimento de uma pesquisa por mim orientada, veja mais abaixo o resultado de 429 redacções feitas por crianças do ensino primário em escolas de Inhassunge e Quelimane, respondendo à pergunta: o que se deve fazer a um feiticeiro?

A "hora do fecho" no "Savana"

Na última página do semanário "Savana" existe sempre uma coluna de saudável ironia que se chama "A hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Deliciem-se com "A hora do fecho" desta semana, da qual vos dou, desde já, um aperitivo:
* O batuque e a maçaroca dizem que estamos num país com iniciativa privada. Mas esta semana a mão pesada do Estado, sem consultar a tal iniciativa privada, mandou pagar um dia e meio de salário sem trabalho. Provavelmente, na próxima semana há mais. Com os dois feriados e dois fim de semana, são nove dias de borlas. Os privados, que não foram consultados, deveriam ir ao ministério do Trabalho apresentar a factura ou pedirem ao ministro Chang para terem um desconto nos impostos.

A Beira de Deviz Simango


O áfricamonitor português tem um trabalho sobre a Beira de Deviz Simango. Confira-o aqui.

Azagaia: obrigado de novo Pai Natal

O rapper moçambicano Azagaia (nome artístico de Edson da Luz) tem um novo trabalho, com o título em epígrafe, que prometi revelar aqui em primeira mão. Cumpro, baixe-o aqui. Já agora, visite também o portal da cotonete records, aqui.

24 dezembro 2008

Jestina Mukoko detida pelo regime de Harare


Afinal a jornalista e activista dos direitos humanos, Jestina Mukoho, não foi raptada mas detida pelo regime de Harare. Ela e nove militantes do MDC-T deverão comparecer em tribunal acusados de recrutar ou de tentarem recrutar pessoas para terem treino militar visando o derrube do governo. Confira aqui no The Herald, jornal governamental zimbabweano. Foto do topo reproduzida daqui.
Observação: estamos perante uma autêntica paranóia de caça musculada e impiedosa a qualquer voz que proteste no Zimbabwe. Vamos a ver até quando os governos africanos em geral e regionais em particular irão ser cúmplices do que lá se está a passar. Por outro lado, é estranho o silêncio na nossa imprensa e na nossa blogosfera sobre o destino de Jestina.