14 dezembro 2008

Cartas de Madrid (1)


Vamos lá ao primeiro número das prometidas cartas. E como é meu hábito, apenas falarei do banal e do desinteressante.
1. Muitas horas a bordo de aviões sem poder cachimbar. Um pesadelo. Mas quando, finalmente, já no exterior do aeroporto de Barajas, me apanho na noite madrilena, estive longamente a fazer o que muitos de vocês certamente não suportam: ter o prazer de uma cachimbada, calma, com o Holland House que sabe a chocolate.
2. Do aeroporto ao hotel, táxi, cerca de 25 minutos, Madrid passa-me pelos sentidos, peliculada por uma chuva miúda e por um taxista laborioso que, vez que vez, olhava de soslaio a fotografia de uma mulher com ar choroso. Tudo muito belo, iluminado, regrado, organizado. Uma ordem foucaultiana.
3. Há coisas sempre curiosas: pela primeira vez na minha vida tenho de usar o cartão electrónico para fazer andar o elevador. Francamente! Há coisas absoluta e definitivamente bizarras. E, claro, desastrado que sou, tive de pedir auxílio para conseguir pôr o raio do elevador a subir.
4. O pequeno-almoço é vasto. E, claro, aguçado pelo frio, vasto-me.
5. Saio, manhã muito fria, Praça do Oriente. Com a alma temperada pelo calor da minha Tete, saído da brisa linda do Índico maputense, recauchuto e agasalho os sentidos nesta baixa temperatura.
6. Creio que os madrilenos prezam os reis, estátuas de reis aqui e acolá. Polícias a cavalo. Muito mundo enfriorado, fotografando e filmando. Cada um quer ter o país de Cervantes num minuto de vertigem, com o nariz a fungar nas células turísticas.
7. Mesmo junto ao hotel, um belo café no qual se pode fumar. Cheira a café, cafézo calmamente, cachimbando no quente interno.
8. Mestiçando português e espanhol, lá vou fazendo perguntas. A vida é isso: o casamento das diferenças, casamento conseguido ou desconseguido.
9. Andei à procura daqueles telefones públicos que tanto vejo em Paris e São Paulo. Nenhum encontrei. Pelo menos por agora.
10. Não vi ainda ninguém dormindo nas ruas nem perscrutando as latas de lixo.
11. O pequeno e envergonhado sol da manhã foi-se, feito prisioneiro das nuvens ciumentas e chorosas.
(continua)

6 comentários:

Sir Baba Sharubu disse...

What do the spanish newspapers say about Zimbabwe ?

Carlos Serra disse...

Em dois jornais de hoje, incluindo o El Pais, nada encontrei. Neste último jornal, a mais recente notícia está aqui:
http://www.elpais.com/graficos/internacional/Brote/colera/Zimbabue/elpepuint/20081211elpepuint_1/Ges/
E qui tb neste dossier:
http://www.elpais.com/archivo/buscando.html

Paula Araujo disse...

E a crise, Professor? A crise?

É impressão minha ou vejo uma senhora de manga curta na Praça do Oriente carregando as compras?

Boa estadia aí por Castela! E aproveite a gastronomia além do excelente tabaco de cachimbo de todas as origens.

Paula

Paula Araujo disse...

Já percebi, não são fotos actuais. Um olhar mais atento e não teria feito a observação tonta sobre a senhora de manga curta. Ehehehehe
Paula

Anónimo disse...

Olá Professor muito interessante suas crônicas sobre Madrid. Que tenhas uma boa estada ai na capital espanhola e nos brinde com seus excelentes artigos. Um abraço.

Anónimo disse...

Hola professor, espero que esteja desfrutando de Madrid e do frio. Vivo em Barcelona, ainda n tive a oportunidade de visitar Madrid. Ca sim que ha pessoas dormindo na rua,dentro dos compartimentos onde ficam os ATM no inverno, no verao se podem encontrar alguns em bancos dos parques.