Ainda não começaram as chuvas regulares na cidade de Maputo, mas belas andam as acácias com suas flores lindas e acariciantes e as mangueiras, com as mangas já na mira das toutinegras. Tirei as fotos esta manhã, almando o Jardim dos Namorados, com o Índico ao fundo, sereno e calorado. E já que falo no Índico, prove um pouco destes meus poemas:
I
algemei as sombras
para que o sol se pudesse vestir
semeei os instantes no futuro
para que o tempo pudesse nascer
colei o rio no horizonte
para que as margens pudessem repousar
inventei o Índico
para que as acácias pudessem florir
fiz-me habitar este poema
para que soubesses que existo
II
vejo esta gente a correr cedo
como se o coração pudesse voltar atrás
mas eu que tenho o coração sempre atrás
ponho-me, vê tu que poligonal ânsia,
a desabotoar as blusas das acácias
(militante dos sentidos que sou)
para que saibas que até aí te reencontro
subitamente retesada
ao tacto do Índico que acordo
nesta manhã fresca de Maputo
vejo esta gente a correr cedo
como se o coração pudesse voltar atrás
mas eu que tenho o coração sempre atrás
ponho-me, vê tu que poligonal ânsia,
a desabotoar as blusas das acácias
(militante dos sentidos que sou)
para que saibas que até aí te reencontro
subitamente retesada
ao tacto do Índico que acordo
nesta manhã fresca de Maputo
III
quando as manhãs são jovens
quando as manhãs são jovens
o seu sangue tem a frescura das gazelas
e as acácias encostam a alma ao Índico
no fresco afago de Junho
tenho por hábito transformar o sopé da espera
na cumeeira dos sonhos que culimo em ti
(por isso nunca preciso saber das sortes
enxertadas nas perguntas que faço à vida
quando as faço rolar nas conchas que não tenho)
IV
algum dia viste uma gaivota
beber água no Índico?
não, não viste nunca!
explico-te: ela não bebe
como pensas
não bebe bebendo
mas simplesmente afaga
roça amando a água para a sorver
docemente em momentos sucessivos
com a beleza fantástica com que
uma folha beija o ar que a ama
(assim te faço
em permanência
assim te gaivoto)
V
vem comigo ver nascer o dia
vem comigo acordar o sol
vem comigo inaugurar as acácias
vem comigo beijar o Índico
vem comigo desenhar as andorinhas
vem comigo soltar a âncora dos sonhos
vem vem comigo comigar este futuro
A conferir num dos meus blogues de poesia, aqui.
8 comentários:
Isso, um poeta sazonal, mas nem por isso menos poeta.
Abracos,
Thomas Selemane
Meu caro Carlos,
Havia também uma nota idêntica sobre Maputo que não consigo mais encontrar...
Vou deixá-los assim a conviver e observar um triste fenômeno sociológico.
Abraços.
Pois é, veja quando foi aquele blogue criado (mais o site meter), repare que tb foi este ano inscrito no BOBs e descobrirá a alma do que vc chama "triste fenómeno sociológico". Aliás, os plágios são sempre...sociológicos. Finalmente: deixei lá um comentário sobre a importância dos mimetismos.
Origado, Selemane.
Lindas, lindas, lindas as acácias!
Maravilha para a vista e para o coração.
Obrigada.
Sim, acaciando a vida, Micas.
Andais "docemente" inspirado Professor! Isto é "inspiração de ponta".
Abraço
V.I
Sempre docemente.
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