Segundo o "Notícias" de hoje, fraco patrulhamento e soltura dos supostos malfeitores "são as causas que as populações das cidades de Beira e Chimoio apontam como estando por detrás dos linchamentos que se têm registado nos últimos tempos no país. E elas falavam a uma comissão criada pelo Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique que desde a semana passada se encontra a trabalhar nas províncias de Manica e Sofala com vista a identificar as causas e procurar formas de estancar tal fenómeno que a nível nacional já fez um total de 18 óbitos só no corrente ano."
Um passo dado pela polícia, bem positivo, nesta busca das causas (bem mais complexas, porém, do que pensamos) para se conhecer as condições sociais que fazem com que nas periferias de Maputo, Beira e Chimoio pobre linche pobre, para usar uma expressão cómoda e pobre.
Entretanto, há uns anos atrás, o pesquisador brasileiro José de Souza Martins, que há mais de 30 anos estuda linchamentos no Brasil, escreveu um texto do qual extractei a seguinte passagem controversa: "A questão central é esta: por que a população lincha? A partir do conhecimento que se tem de diferentes modalidades de linchamento em diferentes lugares do país (Brasil, CS), a hipótese mais provável é a de que a população lincha para punir, mas sobretudo para indicar seu desacordo com alternativas de mudança social que violam concepções, valores e normas de conduta tradicionais, relativas a uma certa concepção do humano. Uma hipótese decorrente é a de que o linchamento é uma forma incipiente de participação democrática na construção (ou reconstrução) da sociedade, de proclamação e afirmação de valores sociais, incipiente e contraditória porque afirma a soberania do povo, mas nega a racionalidade impessoal da justiça e do direito." (itálico no original)
2 comentários:
Julgo que deve se especificar o estrato da nossa população que faz o linchamento...quem busca o pneu, quem amarra, quem compra ou traz a gasolina, palha e que vai atear o fogo? Fiquei chocado outro dia quando o STV reportou um caso de linchamento no Chimoio..ví apenas crianças de 9 a 14 anos a fazer isso...muito triste...será que são estes os nossos linchadores profissionais?
Esbocei uma pequena inquietação mais acima. Quanto às crianças, importa considerar que no ritual sacrificial, entra tb - coisa que nos repugna -o ludismo, à mistura com a catarse que o fogo do pneu intensifica.
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