20 julho 2007

Querem que eu fique a tricotar? Está na hora de aceitar o diferente - Dama do Bling responde aos moralistas

A cantora Ivannea, com o nome artístico Dama do Bling, continua na berlinda, atacada por todos os lados pelos guardiãos da moral e da régua comportamental. Mas hoje, no "Savana", Venâncio Mondlane Jr vitupera duramente esses moralistas que põem em causa a honestidade da cantora e esquecem o fenómeno artístico (p. 7). Por outro lado, o semanário reproduz a letra de uma canção de Ivannea na qual esta se defende frontalmente dos seus detractores, que a acusam, mesmo, de cantar grávida*.
A parte final da letra é esta:
"agora que estou grávida
não posso mais cantar?
é para ficar em casa a tricotar?
tenho que fazer o que a
sociedade manda?
a mesma sociedade que
mal se comanda
amo minha vida,
ninguém tem nada a ver
quanto mal falarem
me fazem crescer
vou continuar a fazer
o que quiser
até lá pessoal
salve-se quem puder" (p. 31)
Neste diário, tenho dedicado algum espaço a colocar o problema do hip-pop e, em particular, a analisar o moralismo que se atraca à Dama. Confira aqui.
E oiça, Ivannea: não gosto da sua música, mas tem o meu completo apoio quando exige ser o que deseja ser e não ser aquilo que os outros querem que você seja. Como diz a letra da sua canção, "está na hora de aceitar o diferente".
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*Por exemplo, na edição de hoje do jornal-fax "Correio da Manhã", Luís Loforte pede que se termine de vez com o que chama "cenas degradantes" e "alienação cultural", nas quais - sustenta- até a sua gravidez a Dama do Bling exibe. Pede socorro curativo imediato a várias instâncias, a última das quais a do próprio Presidente da República.

5 comentários:

Aguiar disse...

É, é caso para perguntar se as mulheres gravidas devem parar de trabalhar? É, é caso para perguntar se as mulheres gravidas devem parar de trabalhar? Afinal o que indigna na dama do Bling? O que o indigna de facto aos guardioes da moral e do bom costume? A transformaçoa do corpo da mulher? Sim, porque a dama do bling ja expunha o seu corpo antes, eu pelo menos nunca li critica alguma antes.
O facto da dama do bling continuar a exercer a sua profissao estando gravida? Sim, porque hoje em dia as mulheres continuam a trabalhar ate ao fim da gravidez. Porque noa pode a dama do Bling utilizar os seus utensilios de trabalho (corpo e voz) durante a gravidez, desde que ela se sinta capaz de faze-lo? Se a dama do Bling tivesse abraçado a profissao de advogada continuaria a dispor de suas vestes de trabalho e seus manuais do codigo, nao? A medica continua a usar a bata, e o estetoscopio, a mecanica o facto macaco e chave de fendas, nao? Porque nao deve a dama do bling parar usar o seu instrumento de trabalho? As gravidas sao catalogadas segundo a sua profissao? ou sao todas as mulheres ( nao importa a profissao) que vendo o seu corpo transformar-se segundo as mutaçoes biologicos (ciclo menstrual, gravidez, menopausa) tornam-se imorais? Existem gravidas morais e gravidas imorais? i.é aquelas a quem é permitido usar o seu instrumento de trabalho sao gravidas morais e aquelas a quem os intrumentos de trabalho “incomodam”, sao imorais? Afinal o que incomoda realmente, é a dama do bling ou é a tranformaçoa do corpo da mulher segundo as mutaçoes biologicos (ciclo menstrual, gravidez, menopausa)?

Carlos Serra disse...

Aí estão as questões para que reflictamos.

Avid disse...

Tenho acompanhado a par e passo a onda de reclamações “pudoradas” contra o remexe da Dama do Bling e contra a sua forma de ser e estar em palco. Por falta de tempo ou vontade (admito) só hoje me deixei levar pela tentação de comentar aqui neste espaço.

Não sou fã das músicas da Bling, mas confesso que aos poucos esta polémica toda me fez prestar mais atenção nela e aos poucos, passo a admira-la (ela como pessoa e não as suas músicas ressalvo) mais do que pensei ser possivel.

Gosto de mulheres de atitude e ela se revela uma delas a seu modo, ama o que é, e o que faz, prima por uma ousadia pouco comum e por isso nada aceite pelos mais moralistas. Não se intimida com nada e contrariamente ao que se espera balança a sua barriga (um belo símbolo da beleza do que é a maternidade) ao som do que ela acha saber fazer: cantar. Espero sinceramente que nos preocupemos com problemas maiores do que com a diferença que a Bling teima em transbordar por todos os poros. Ser diferente também é normal ( tenho de saber melhor o que é o termo normal).

Só quem se sente muito bem consigo mesmo ultrapassa a barreira do falso puritanismo e se atreve a ser sempre mais, a ser o que realmente quer ser.
Bling, se é isso que queres e é o que fazes com prazer, bola pra frente mulher!!!

Que falem bem ou mal de ti... mas que falem de ti :) isso é o que interessa como diria alguém ai dessas bandas.
Bjs meus

Carlos Serra disse...

Bem, ainda bem que Ivannea tem quem a defenda. No próximo "Savana" começa a minha série em sua defesa...

Anónimo disse...

Este problema relembra o que Albert Camus dizia das pessoas que, não gostando do futebol, dele falavam: "As pessoas que dizem mal do futebol são tremendas... obrigam~se a falar do futebol". Logo, parafraseando: "as pessoas que dizem mal da dama do Bling são tremendas... obrigam-se a falar da dama do Bling".