Comemorações, inaugurações, condecorações, desfiles: eis momentos efusivos de grande importância para expôr e exaltar o poder político, as datas históricas, para assinalar visitas especiais dos chefes, para premiar os cumpridores, para reforçar a memória dos heróis fundadores, polir o poder da história vencedora, a saga da gestão estatal, as vitórias do plano estratégico, para desfraldar as virtudes da estatística no cumprimento heróico das metas. Grande cuidado ritual é dedicado a estes momentos que se pretendem de rejuvenescimento, de racauchutagem da confiança política, de restauro do espectáculo do poder exposto na sua força imponente, persuasiva, sinestésica, produtora de efeitos ópticos fantásticos. Cerimónias propiciatórias oficiadas pelos curandeiros em memória dos espíritos, coros de pendor religioso e espectáculos musicais são alguns dos ingredientes usados na produção simbólica e massiva de poder político em dias de festa. Do topo à base da cadeia do poder, do grandioso ao modesto, da capital ao território sem altifalantes do chefe de posto, ritmadas pelas bandeiras do Estado e do partido, as comemorações sucedem-se, em cerimonialismo cuidadoso: nenhum chefe as perde ou as esquece, sagradas que são. (imagem reproduzida daqui)
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
2 comentários:
Tomara fosse apenas nos dias festa!
Cada visita do chefe, sua primeira esposa, do candidato , do chefe territorial da pre campanha, do Secretário ao seu nível, significa um feriado distrital.
Há semanas em que se contam até 5 distritos onde, em pleno meio da semana laboral, não se trabalha e não se estuda durante o dia inteiro da visita.
E, invariavelmente, o visitante faz apologia da produção e produtividade como forma de vencer a pobreza no seu discurso dirigido a esta população, afinal convocada a motivar-se para o ócio.
Uma "fotografia" perfeita do poder em exibição num dos países mais pobres do mundo.
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