"Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem." (Bertolt Brecht)
O que é violência? É um dano físico, psicológico e/ou moral infligido a outrem (individual ou colectivamente considerado) ou em algo, de forma continuada ou não, directa ou indirecta, com consequências lesivas que, no limite da interacção social, podem conduzir à morte. Por regra, a violência surge como algo paroxístico, imediato, de grande visibilidade. Então, a nossa concepção de violência baseia-se na violência violenta: um tiro, uma agressão, uma ira sem fronteiras, uma manifestação popular, uma carga policial. Isso significa que temos da violência, por um lado, uma concepção imediata, instantânea, quer dizer uma concepção não processual, daquela processualidade que, agindo por acumulação progressiva de causas e de contextos, explode um dia; por outro lado, uma concepção de ruído, de explosão, de visibilidade, a qual escamoteia as "condições violentas não violentas" que, por acumulação progressiva, dão origem à repentinidade da "violência violenta", ruidosa, que parece não radicar nessas condições.
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