19 setembro 2009

(14) 19/09/09


Maravilho-me todos os dias com os espantosos poderes de certos analistas da praça que, nos mais variados níveis dos órgãos de informação, nos brindam com uma sabedoria mediúnica sem limites. Sabem o que se passou e o que vai passar-se sem necessidade de pesquisa, sabem que o partido X vai ganhar e que o partido Y vai perder, sabem o que se passa nas células e nas campanhas dos partidos sem nunca lá terem estado, definem a quem pertence o futuro e o passado da história política do país, são inamovíveis sobre quem está com a verdade e com a falsidade, com a bondade e com a maldade. Esses curandeiros, esses áugures são decididamente fascinantes.
Adenda às 8:54: sempre que posso, oiço os tempos de antena da Rádio Moçambique e vejo os comícios dos partidos transmitidos pelas nossas televisões. Entre as coisas que procuro fixar e anotar, está o desfile das viaturas de luxo em honra do partido X ou Y e do respectivo Big Man das presidenciais.
Adenda 2 às 15:24: eu ia devagar no meu carro, a ruela era apertada. Mas o condutor de uma toyota que vinha à minha retaguarda estava com pressa, uma pressa impositiva. Tocava a buzina sem parar. Quando pôde, ultrapassou-me a grande velocidade e entrou numa ruela prependicular em sentido proibido. Viatura cheia de cartazes de propaganda.
Adenda 3 às 15:44: o título é "Vaquina arrasta multidões", o texto é este, tendo a AIM como fonte: "Numa marcha pacífica e que culminou com mais um comício Governador de Sofala, Alberto Vaquina, arrastou várias centenas de membros e simpatizantes da Frelimo..."
Adenda 4 às 15:49: título do trabalho: "Primeiros passos para a elaboração de um Modelo Psicossociológico do Comportamento Eleitoral: estudo dos eleitores de João Pessoa na campanha de 1992", a conferir aqui.
Adenda 5 às 17: o jornal online "O País" reporta estar a Frelimo confiante numa "vitória esmagadora" (sic) em Cabo Delgado dado os adversários estarem a fazer uma "campanha menos vibrante" (sic) em termos de desfiles e pessoas (a AIM é a fonte de informação). Já toquei no ponto a seguir, mas regresso a ele: a convicção de que grandes cenários são prova de adesão popular.
Adenda 6 às 17:06: recorrendo uma vez mais ao "O País" online: um porta-voz da Frelimo aparece a afirmar que "partidos político emergentes" em Sofala estão a criar pânico nas populações promovendo linchamentos por forma a desacreditar a polícia (a fonte é, de novo, a AIM, cujo teor de notícias deve ser analisado). Acriticamente, o "O País" usou este título: "Oposição está a criar pânico na Beira". Só faltava esta, agora! Mas a postura assumida é facilmente compreensível em luta política. Outras coisas virão.

6 comentários:

Borges Nhamirre disse...

Dr Serra!
Também acho-os curandeiros esses nossos digníssimos doutores.

Na verdade, de analistas têm muito pouco.

Primeiro é o facto de eles estarem nas televisões a fazer análises, não em função dos factos, mas sim em representação dos partidos políticos.

Mas a culpa não é deles, eu penso que recai para as nossas televisões.

Eu trabalhei numa estação televisiva durante as eleições autárquicas. Era repórter da secção de política.O que acontecia, sem querer manchar o bom nome dessa televisão, é que o analista por convidar para comentar um determinado assunto das eleições, não era, primeiramente avaliado em função das suas simpatias políticas.

Ora, como esperamos que um candidato à deputado pela bancada da Frelimo, Renamo, por ai, venha na televisão dizer mal do seu partido.

Principalmente neste país que o estômago fala mais alto do que a consciência?

Mesmo quem não é candidato a deputado, é no mínimo jurista que sobrevive à custa da assessoria jurídica ao ministério X e ao banco Y. E falar mal de um partido Z, pode ter as consequências que nós todos sabemos.

Eu penso que não são analistas, são represenates de partidos políticos que vão à televisão com a missão já bem definida: falar bem do seu partido e falar mal dos demais

Chauque disse...

´´está o desfile das viaturas de luxo em honra do partido X ou Y e do respectivo Big Man das presidenciais´´.

boa tarde professor, o desfile de luxo, é a tal camada da elite ou a mafia oficial, que tudo gira em volta deles, é a famosa menoria que tem acesso a tudo em moçambique, que nao kerem ovir k em moçambique ha pobreza, que milhares e milhares de moçambicanos amanheçe e dormem sem ter o k comer, quando ovem isso dizem: voces ,sao frustrados, discontentes, apóstolos da desgraça

por isso tem k tirar todos caros das garagems e sair a rua para garantir o proximo investimento,

PS:no Ministerio onde trabalho, a dias houve uma reuniao em plena hora do expediente, e a palavra de ordem é: NÃO ESQUEÇAM, VOTAR NAQUELE QUE VOS PAGA SALARIO!!!

palavras para qué? para bom entendidor meia palavra basta

Carlos Serra disse...

Há dois tipos de actores que,entre outros, amaria estudar: aqueles que habitam as ditas análises e aqueles que habitam a Assembleia da República.

Anónimo disse...

andando pelo alguns distritos da chamada Alta Zambezia, onde of funcionarios publicos sao obrigados a pertencer o partido "grande"...afinal estao só assegurar o pao...em vozes baixas dizem "cuidado suprezas, o voto e´secreto"..."vamos experimentar nesse jovem mesmo"...esse jovem é muito intelligente e ponderante, nao fala nome dos outros"..."se mesmo no spot da CNE, aquela senhora de peixe e legumes, agora mostra nos o numero 1"...para e em diante...
há supresas

Borges Nhamirre disse...

"Há dois tipos de actores que,entre outros, amaria estudar: aqueles que habitam as ditas análises e aqueles que habitam a Assembleia da República".

No fundo são os mesmos, Dr!
São todos teleguiados.
Tanto os da AR, qunto os famigerados analistas, nada têm a ver com a verdade.

Acima de tudo está o cumpriomento das recomendações do CC.

Não ouviu um famoso jurista a dizer na Televisão, durante um programa de horário nobre, que "o não cumprimento de prazos da publicação das listas pela CNE não é problema de análise, porque se tivesse excedido os prazos, mas no fim aprovar todas as liastas, não haveria quem reclamasse"?

Não estudei Direito, mas tenho a mínima noção do espírito da lei.

Será que faz sentido um jurista dizer que o não cumprimento dos prazos legais não é um assunto de fundo?

Então, porque a lei determina prazos?

Esse caro Doutor sabia que estava a ser incoerente, como jurista, mas estava, acima de tudo, a defender o taxo. Não acha Dr?

Então, qual é a difereneça entre este pseudo-analista e o ilustre deputado que vai a AR simplesmente para bajular o seu Chefe Supremo?

Na essêncisa não há diferença alguma, todos são teleguiados, traiem a consciência em benefício do taxo!

Reflectindo disse...

Há muita coisa por estudar. Estou imaginando durante 45 dias as mesmíssimas pessoas a subirem nos mesmíssimos carros ou marchando nas mesmas ruelas para propaganda eleitoral...

Se um partido X disse que no primeiro dia da campanha tinha alcancado 75 % do eleitorado, será que ainda vai falando com as mesmas pessoas com já falou no primeiro dia?