A democracia está em construção no Brasil, mas, paradoxalmente, a cultura do medo amplia-se. Simultaneamente dado real e dado projectado, fenómeno e criação, natural e inventado, facto e símbolo, o medo inscreve-se numa autêntica cultura, a do medo. E, por consequência, também, na cultura da busca de segurança. Esse o tema do livro com a capa em epígrafe, do qual extractei a seguinte passagem:
"(...) o medo e a insegurança neste período democrático permitem ao Estado medidas simbólicas cada vez mais autoritárias, leis cada vez mais punitivas, legitimidadas por demadas sociais de protecções reais e imaginárias, principalmente da elite. Além disso, justificam a criação de empresas de segurança e o apoio à privatização da polícia. Criam, ainda, uma indústria de segurança - grades, seguros, alarmes - que, na maior parte das vezes, fornece mais protecção simbólica do que real. Por fim, legitima discursos oficiais de políticos, da imprensa, de chefes religiosos, de "personalidades" diversas, sobre o aumento da violência e da criminalidade como resultado de uma sociedade em decadência. Como resultado, tem-se, por um lado, o fortalecimento de um imaginário da ordem, justificando uma dominação autoritária em potencial, uma diminuição dos espaços sociais, um isolamento gradativo e voluntário das vítimas prováveis, cujos resultados podem servir tanto como incentivador do individualismo, característico das sociedades contemporâneas ou para a tribalização, vale dizer, para a organização de grupos fechados, que, muitas vezes, tomam o aspecto de gangues" (p. 97).
O livro aqui em causa foi editado em 2003 pela Instituto Brasileiro de Ciências Criminais de São Paulo, Brasil, instituição na qual trabalha Jacqueline Sinhoretto, uma pesqusiadora que esteve o ano passado em Maputo para participar num seminário sobre linchamentos em Moçambique.
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