O tom de profundidade trabalhada, o cartão de identidade intransponível, o rosto cheio de auto-satisfação proteica e profética, assim nos exibimos aos outros, a vários níveis, mostrando que temos não um doutoramento, mas um PhD (a negro, sublinhado, no cartão de visitas), o nosso valioso totem.
Na mais banais, singelas coisas da vida, tudo fazemos para convencer os outros de que somos realmente PhDados. Provavelmente até nos aniversários.
Na realidade, aqui na terra o PhDismo campeia por todos os lados, de forma galopante.
4 comentários:
E ainda por cima nada publicam, apenas viajam para os congressos.
Jonas
Concordo consigo Jonas, mas estou em querer que o facto dos “conferencistas militantes” nada publicarem, nao é o mais grave para mim. O mais grave e intoleravel, a meu ver é quando os ditos “conferencistas militantes” nao publicam e nem deixam publicar, i.é nao dao hipoteses a jovens investigadores de participarem nas conferencias, enquanto local de troca de conhecimento e possivel vector de publicaçoes.
Exemplo:
Caso 1:
[A]trabalha numa organizaçao internacional, sempre que a ocasiao se proporciona [A] tenta promover jovens investigadores Africanos. Assim, [A] envia um convite para uma instituição em Sao Tomé e Principe, convidando [B] para participar numa conferencia, num outro país africano. [B], é uma jovem saotomense, recém licenciada em historia, empreendedora, brilhante e promissora.
Entretanto, passado um tempo consideravel, [A] não obtem resposta de [B]. Assim, [A] considerando a hipotese que, por vezes em Africa os serviços de correios,nao funcionam como o desejado (cartas demoram muito tempo, por vezes desaparecem, etç), telefona a [B] informando-a pessoalmente. Esta ultima confirma que de facto nada tinha recebido.
Assim sendo, e como o tempo tornava-se factor limitante [A] empreende todas as demarches para a compra do bilhete de passagem de [B], desbloqueia a verba necessaria para o “l’argent de poche” e envia novamente o convite a [B]. Mas desta vez o convite segue pelo correio da organização internacional em questão. Assim [B], consegue recuperar o seu convite. Ja na posse de seu convite [B] entra em contacto com sua chefe [C], para que esta desse o seu aval. Uma vez que [A], ja se tinha ocupado de tudo o resto, [C] so precisava de autorizar a emissao do passapote de serviço.
Ora, [C] disse nao ser possivel, porque o tempo era muito curto!!! Chamo a vossa atençao que a Ilha de Sao Tomé, tem uma área de cerca de 857 Km2, sendo o eixo de maior comprimento de cerca de 47 Km. Dos cerca de 150 000 habitantes cerca de 50 000 vivem na cidade capital; Enfim, sera tao dificil assim obter um visto de saida num passaporte de serviço?
Caso 2:
[C], é convidada oficialmente para uma conferencia, num pais africano. Ja no local da conferencia [C], encontra [D]. Esta ultima é simplesmente uma jovem estudante, que tinha trabalhado durante as ferias, acumulado dinheiro, pagando assim sua propria passagem para ir à conferencia. Quanto ao alojamento [D], assaltou a casa de uma de suas amigas. Embora estivessem ambas ([C], [D]), na mesma conferencia para apresentarem comunicaçoes sobre STP, era preciso nao esquecer que[C] fora oficialmente convidada. Nesta qualidade [C], foi entrevistada, nao perdendo a opurtunidade para marcar a diferença entre os “conferencistas militantes” e os outros. [C], disse “a minha comunicaçao é aquela que vem verdadiramente de STP....”
Acho que este exemplo fala por si e despensa qualquer comentarios, nao tenho nada contra
os “conferencistas militantes” mas pretendo, apenas chamar a atençao a sua acçao poder abafar a emergencia de novos talentos. Chamo a atençao que normalmente os ditos “conferencistas militantes” utilisam dinheiro da “coisa publica”, para seu beneficio pessoal – ir arejar... nao publicam como mto bem diz o Jonas e pior que tudo criam uma especie de rede inquebrantavel, onde os que têm vontade de publicar dificilmente podem penetrar ...
Iolanda Aguiar
Devo concordar consigo, aqui creio que o mesmo ocorre,o ciume...
Jonas
"A Universidade e os Phdados": uma producao em série de massa a-crítica
A globalização neoliberal é por excelência produtora de uma visão de mundo consensual e hogemónica, evacuando o conflito e a alteridade na estrutura das relações sociais.Todavia, a globalização contra-hegemónica (liderada pelos movimentos sociais alternativos) revela de forma paradigmática quão falsa é a ideia de uma visão dogmática do mundo, logo todo o acordo é potencialmente um pseudo-acordo, veiculando tão somente um pensamento social e político hegemónico.
Observa o professor Carlos Serra que o "PhDismo campeia por todos os lados de forma galopante". Todavia não existe uma correlacão significativa entre o incremento de "PhDados" e o refinamente e o aprofundamento de debates públicos esclarecidos. É mesmo para dizer que as universidades tornaram-se em autênticas salchicharias produzindo, em série, doutores e/ou pós-doutores despidos de consciência crítica e problematizante do social. Em suma, não produz intelectuais.
Consideram-se intelectuais todos aqueles que "tenham adquirido, com o exercício da cultura, uma autoridade e influência dos debates públicos". Enquadram-se melhor nesta categoria o músico Jeremias Ngwenha, e o escritor Mia Couto. O primeiro, sob a metáfora de uma "bicha" retractou exemplarmente o Estado patrimonial e o nepotismo daí decorrente e a precariedade dos direitos de cidadania no nosso país.
Objectivamente os "PhDados", de acordo com a sua intervenção social, devem redimensionar (tornando-se mais humildes) o seu "tom de profundidade trabalhda e a sua auto-satisfação proteica e profética". A manutenção do seu prestígio, decorre do facto de estarmos a viver numa sociedade "titulocrática" e socialmente facista, descomprometida com a busca ou aproximação da verdade. Por isso mesmo os ilustres "PhDados" se acomodam, aparentemene tranquilos, numa sociedade onde os processos se exclusão social preponderam sobre os de inclusão, isto é sentam-se e fumam por cima de um barril de pólvora.
Muito deles justificam o sua não intervenção social no princípio da neutralidade ética weberiana embora, por outro lado, Popper nos ensina que "um ponto de vista é inevitável, e a tentativa ingénua de evitá-lo só pode levar ao engano, e à aplicação não crítica de um ponto de vista inconsciente".
No meu entender os ilustres "PhDados" estão a padecer daquilo a Paula Meneses qualificou de "proletarização intelectual" e que Carlos Serra designou de "mentalidade projectista" uma clara tentativa de aburguesamento, sem contudo, dedicar um olhar crítico ao social, acomodados na pseudo-estabilidade.
O dia 23 de Fevereiro do corrente ano a ocorrência do sismo embora vivenciada traumaticamente, foi pedagógica. Veio provar a todos os moçambicanos que toda a estabilidade, é potencialmente uma pseudo-estabilidade. Assim sendo, não nos admiremos que um dia Moçambique se torne todo ele numa autêntica "Espungabera" não do ponto de vista sísmico-geológico, mas sim de convulsão social.
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