A cada um segundo as suas necessidades, a cada segundo o seu Samora (6)

Se é o homem é a medida de todas as coisas, a política é a medida de todos os heróis.
Vamos lá então avançar um pouco nesta encruzilhada samoriana.
Perguntei-me e perguntei-vos, no número anterior, quantos prismas é possível adoptar no tocante a Samora Machel, ícone nacional este ano tornado modelo político. E perguntei-me e perguntei-vos por quê.
Após os primas compósito e nacional útil, é agora a vez do prisma social inconveniente.
A independência do nosso país foi, para mim, a diagonal de dois tipos de concepção: aquela que defendia a independência estrita e aquela que defendia a alteração das relações de produção coloniais. Por outras palavras: a conjugação das lutas de libertação nacional e social. Essa conjugação foi levada a cabo pelo bloco então hegemónico da Frente de Libertação de Moçambique liderado por Samora Machel.
Prossigo mais tarde (crédito da foto aqui).

(continua)

Nota: o que surgiu ontem em alguns jornais como uma contradição de ideias entre a Frelimo em si (como unidade) e Marcelino dos Santos em si (como indivíduo) (aqui e aqui) é bem mais do que isso, do que a luta entre um partido e um dissidente conceptual, do que um despique de ideias em si: é uma contradição natural e naturalizada entre o actual bloco hegemónico do partido e um descendente do antigo bloco, o bloco de Samora, vencido e substituído. O que está em causa é, ontem como hoje, com defensores e opositores, a formulação e a defesa veemente de um determinado tipo de relações sociais. Hoje, é como que um eco delido do antigo debate dos anos 60 e 70 na Frelimo. Creio que este ano surgirão mais debates desse género e muito possivelmente serão um dos fusíveis na escolha do sucessor de Guebuza.