24 julho 2007

Das mulheres de Bourdieu às mulheres de Touraine (2)

Quando releio o clássico "A dominação masculina" de Pierre Bourdieu, chego sempre ao fim com a sensação de que o mundo é um rolo compressor sem qualquer hipótese de fuga para nós.
Abrigam-se várias, muitas coisas - afinal todas - na imagem que tenho do rolo compressor.
E, para o caso que nos importa, Bourdieu procura mostrar-nos que a dominação masculina está de tal forma ancorada no nosso subconsciente que nem sequer dela nos apercebemos.
É explorando a sociedade kabila, na Argélia, que Bourdieu revela as evidências e as estruturas simbólicas do inconsciente androcêntrico que se reproduz, todos os dias, quer nos homens quer nas mulheres.
Esse subconsciente é produto da acção de inúmeras instâncias de inculcação e de reprodução.
No fim do processo - que é, claro, o recomeço -, são as próprias mulheres que se dominam a elas-próprias na aceitação do androcentrismo.
Em Bourdieu, a mulher não tem escolha, não tem fuga, não tem saída, salvo a de aceitar, reproduzindo-os ela-própria, os mecanismos da dominação masculina.
Fique-nos a consolação da mensagem de optimismo que atravessa em filigrana os livros do falecido sociólogo francês: quanto mais conscientes estivermos dos mecanismos de dominação, mais livres podemos ser.
Mas vamos contactar, a seguir, as mulheres de Touraine.

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