04 maio 2010

A pergunta

Em 2003, num seminário de uma Cadeira que lecciono, uma historiadora francesa, por mim convidada, foi confrontada com a seguinte pergunta de um estudante: “A Professora não acha que a verdade histórica pode melhorar se pudermos também contar com a opinião dos espíritos e dos curandeiros?”

5 comentários:

Anónimo disse...

Pelo grande peso que a feitiçaria e a contrafeitiçaria representaram no passado e continuam representar hoje, penso que o seu discurso e prática deviam ser estudados pela história e pelas outras disciplinas sociais. De resto há uma vasta etnografia sobre estes fenómenos, discutindo a sua importância no quotidiano. Num trabalho muito recente, um antropólogo americano, Harry West, mostrou como, no planalto de Mueda, em Cabo Delgado, Moçambique, o discurso da feitiçaria serviu, inclusivamente, para interpretar de forma alternativa as actuais reformas democráticas no pais. Tal como o seu estudante do ano 2003, penso que é desvantajoso marginalizar a feitiçaria e os feiticeiros da história.
Cuumprimentros
Carlos Bavo

Carlos Serra disse...

http://www.soas.ac.uk/staff/staff31990.php

Anónimo disse...

Onde fica a luta de Samora Machel contra o obscurantismo?

V. Dias disse...

Depende do ângulo e da visão historiográfica em estudo. Se vermos as coisas na dimensão Ocidental, esta pergunta pode ser insustentável devido as premissas dessa mesma historiografia. Dizem eles que o miticismo não é característica fundamental da sua historiografia que privilegia outro tipo de fontes, raramente os espíritos. Pessoalmente não concordo com esta tese.

Já na perspectiva africana em particular, creio que não me ficava mal - eu como animista de berço (praticante) - admitir que a história só se aproxima da verdade com a opinião dos espíritos e dos curandeiros.

De contrário a nossa historiografia não sairia nunca da letargia e, quiçá, da incubadora. "Uanhenga Xitu", ou seja, Agostinho André Mendes de Carvalho têm publicado vários trabalhos literários sobre "história" e "miticismo", "espiritualidade, etc., que vale a pena ler.

Não sei qual é que foi a resposta da historiadora francesa, mas esta seria o início da minha resposta.

Zicomo

ricardo disse...

Cada civilizacao tem a Sherazade que merece para narrar as suas Mil e Uma noites...

Senao, quem seriamos, nos, os comuns mortais?!