21 maio 2010

Quisse Mavota

Adenda: temos aí um exemplo de um modelar conflito de saberes: aos espíritos são opostos o medo, a ansiedade e o pânico. Oportunamente prossigo a minha série com o título "Os desmaios femininos na Quisse Mavota", em cujo último número reportei fenómenos de psicose colectiva ocorridos em 2006 na Libéria e na Inglaterra e no México em 2007, aqui.
Adenda às 9:21: o quadro sintomatológico apresentado por Lídia Gouveia, chefe do Departamento de Saúde Mental, aponta para um outro fenómeno a estudar: o da associação histórica entre desmaios frequentes+epilepsia e indicação para a iniciação do nhamussoro. Com efeito, há vanhamussoro (a que chamo psiquiatras populares) epilépticos, sendo a epilepsia considerada uma manifestação de espíritos.
Adenda 3 às 9:32: o caso da Escola Secundária de Muelé na periferia da cidade de Inhambane passou quase despercebido, mas o de Quisse Mavota está a ter uma visibilidade extraordinária.
Adenda 4 às 9:37: um jornalista acabou de me informar de um litígio por causa de um terreno entre as famílias Magaia e Panguene. Não tenho confirmação.

5 comentários:

Anónimo disse...

Professor, porque será que apesar da Dra. Lídia Gouveia ter dado uma explicação clarividente sobre o que acontece na Quisse Mavota, vários dos nossos órgãos de informação continuam a anunciar que o MINED ainda não existe explicação?

Anónimo disse...

Sera uma resposta assim tao clarividente? E vi sua intervencao ontem na Televisao, e confesso que nao me convenceu nadinha. Se eu que tenho o minimo de instrucao nao fui convencido, porque sera que o grosso da populacao vai entender aquele emaranhado de postulado que a Dra lidia trouxe a publica? Poderia ter sido bem mais directa e explicita.

Por exemplo nao respondeu porque os desmaios (ela disse que ninguem desmaiou...) afectam somente as raparigas?

IC

Anónimo disse...

IC, O facto de não o ter convencido não significa que a Dra. Lídia não foi clarividente. E isso está a acontecer não só consigo mas tambem com muito boa gente porque já estabeleceram opiniões preconcebidas e por mais que lhes sacudam com a realidade elas não a vão reconhecer.

Mas vou tentar mais uma vez:

1. Uma moça desmaiou.

2. As outras viram a moça a desmaiar.

3. Assusturam-se, ficaram chocadas, algumas ficaram tão chocadas que baixaram o seu nível de consciência. Atenção, elas nem sequer desmaiaram, quem desmaia não chora e nem mexe os braços. (Isto foi observado pelo pessoal de saúde).

4. As restantes viram as colegas naquele estado e mais algumas ficaram chocadas. O pânico instalou-se despoletando um "desmaiar" em cadeia.

5. Assistimos a esse contagiar de emoções em cadeia em muitas situações sociais, por exemplo nos funerais. Uma senhora começa a chorar e vão aparecendo outras tambem a chorar em vários cantos, porque viram a outra a chorar. Algumas sem nenhum vinculo familiar com o falecido(a).

6. Agora a sua pergunta, porque são só moças a "desmaiar"? Resposta: Por uma questão de identificação. As meninas identificam-se com as meninas e os meninos com os meninos. Aquilo que aconteceu com uma menina foi sentido com mais intensidade pelas restantes meninas. Aliás, se houver uma travesti no seio delas pode acreditar que tem grandes possibilidades de "desmaiar" tambem.

Sabemos que na nossa sociedade as meninas são mais sensíveis a essas questões, pela educação que tiveram. Os meninos são mais treinados a controlarem as emoções.

Por fim, gostaria de pedir que oiçamos com mais atenção o que diz o pessoal de saúde. Isto não é um fenómeno novo. Embora raro, já aconteceu em várias partes do mundo. A sua resolução passa por reduzir o pânico na cabeça das pessoas e isso os nossos órgãos podem apoiar na forma como dão a notícia.

Faço este pedido porque sinto pela perda de aulas que aquelas meninas estão a ter. Imagino elas a deixarem de frequentar uma escola tão bonita como aquela...

Psicólogo da Makaneta

Reflectindo disse...

Os que não se convencem com a explicacão basicamente científica, já bem se sabe o que lhes convence. É verdade que o pânico continuará naquela escola e quicá noutras enquanto não se resolver o problema psiquíco que muitos têm.

Por exemplo, se se mandarem para lá esses da AMETRAMO, muitos serão psiquicamente aliviados/curados.

Juro, se alguém quiser poderá transformar-se em doutor cura-tudo, vindo do Norte ou Tanzania e veremos o que vai-se dizer por aí.

Este é o grande desafio que temos em África sem me esquecer de Haiti.

Anónimo disse...

Psicólogo da Makaneta,

Escreveste e disseste coisas muito interessantes, Psicólogo da Makaneta. Espero que sejas percebido por muitos destes que por aqui escrevem e dizem muitas asneiras.

AAS