Produzir a visibilidade, a robustez de uma identidade, parece uma tarefa simples, por mais problemáticos que sejam os caixilhos do presente do indicativo que usamos: somos isto, somos aquilo, cliché de consumo instantâneo. Independentemente de quem somos, sempre somos, sempre acabamos por ser algo numa fórmula. Porém, a luz que inventamos apaga a luz natural, as emoções sintetizadoras anestesiam a vida múltipla e intensa do que nunca é porque está sempre a ser, o anúncio publicitário enterra a história, uma emoção política fermenta rápido demais. Talvez existam tantos Moçambiques quantos os milhões de Moçambicanos que somos, talvez cada Moçambicano seja, afinal, um Moçambique, talvez cada etnia, cada grupo social, cada rico, cada pobre, cada entre-dois, cada centro, cada periferia, cada lugar, no interior ou na costa, seja um Moçambique particular, com a sua história, com a sua maneira de ser movimento e memória, com o seu hibridismo vencedor do uno e do irredutível e, por isso mesmo, difícil de domesticar e aceitar. E naturalmente que existem os Moçambiques e os Moçambicanos produzidos pelos políticos consoante estejam no primeiro andar ou no rés-do-chão do poder, consoante estejam em campanha eleitoral ou não; os Moçambiques e os Moçambicanos fabricados pelas agências de viagens, em seus tropicais e mariscais anúncios índicos; por doadores, agências de caridade, igrejas, deuses e espíritos, empresários, burocratas, gente de tanta profissão registada e inregistada, homens e mulheres, crianças e velhos, malandros e virtuosos, trabalhadores e preguiçadores, os Moçambiques e os Moçambicanos de tantos e de ninguém, afinal, em particular.
(continua)
2 comentários:
Prezado,
O link - ou hiperlink, como chama - para a continuação da série parece quebrado.
Quero fazer menção ao seu texto para ilustrar um pouco a história de um de nossos irmãos africanos, e pensei em apontar para o primeiro capítulo da tal série.
Mas sem o tal link de continuação, não há como prosseguir na leitura, a menos que comecemos de trás para a frente.
Saudações,
Infelizmente tem de se ir pouco a pouco de frente para trás...Um problema. Obrigado.
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