03 agosto 2008

Do poder político (6) (continua)

No último número escrevi o seguinte:
"Na busca de legitimidade, a elite dominante procura disfarçar os seus interesses particulares dando-lhes o cunho de interesses universais, gerais, partilhados por todos, por todos sentidos. Neste sentido, o Estado deve surgir não como algo que se imponha aos súbditos, como algo estrangeiro, mas como uma entidade sénior oriunda dos súbditos, o Estado também é súbito, ele é uma emanação legítima desses súbditos, ele é apenas um seu gestor. Pelos mais variados canais de comunicação, públicos e privados, ao nível da palavra escrita e falada, através dos seus intelectuais orgânicos, a elite dominante passa uma mensagem com dois níveis:
1. Está ao serviço de todos os cidadãos e do seu bem-estar
2. Cada cidadão deve contribuir para o interesse geral"
Na verdade, é sempre vital às elites gestoras de Estados passar, através dos seus engenheiros sociais, dos seus intelectuais caixeiros-viajantes, a mensagem de que estão ao inteiro serviço das massas, das populações. Logo, não pode haver contradições entre dirigentes e dirigidos, entre classes dominantes e classes dominadas, entre os interesses de umas e de outras. Pertencemos todos ao mesmo barco, navegamos juntos, logo juntos devemos estar, o interesse nacional é a razão de ser de tudo. Os interesses de classe inexistem, apenas existem os nossos interesses colectivos e colectivamente praticados, interesses de simples pessoas, pessoas psicologicamente consideradas. Por isso cada um de nós, independentemente do seu lugar social, deve contribuir para o interesse geral, interesse de todos, interesse sem fissuras. E se surgem problemas, evidentemente que só podem ser oriundos de duas situações, de dois modelos causais, tomando em conta exemplos da terra:
1. Mão externa perversa, estrangeira, desestabilizadora (modelo in extremis)
2. Fenómenos efectivamente reais, mas evacuados do conflito social directo, como algo independente de relações sociais directas, do tipo: pobreza, degradação do meio ambiente, Sida, malária, animais depradadores (leões, elefantes e macacos) (modelo do dia-a-dia).

2 comentários:

Xiluva/SARA disse...

Uma leitura não habitual das coisas políticas, enfim a chave de uma fechadura...

Carlos Serra disse...

Só não é habitual o que não queremos que seja...