Estou de novo na rua, aqui nesta parte de São Paulo, agora com semi-sol, algo ventosa, nublada, não muito distante da parte onde me dizem ter nascido a cidade, ali para os lados da Praça da Sé. E lá estou eu a agrimensurar coisas, pessoas, gestos, a cadastrar tudo o que parece ser natural para quem aqui está. Vou estudando a quantidade de condomínios, cheios de cercas eléctricas, de avisos, de câmaras de vigilância, frios, intimidantes. Condomínios por todo o lado, necessidade de segurança, expulsão do exterior, do suspeito, do inimigo. Vou passando por apanhadores de lixo, gente que dorme nos passeios, mas creio que estes não são os catadores, aqueles que reciclam lixo. Reparo que há muita gente que passeia com ou passeia os cães, algo que me faz lembrar Paris. E cruzo com gente de mais variadas descendências nacionais e regionais. E continuo a ver aquela gente afável que convive nos passeios, aquele tipo de civilização calórica que tanto encontramos em Maputo. Custa-me encarar, perto de um botequim onde se comem sandes e se ouve uma canção de Roberto Carlos, uma jovem dos seus 15/17 anos, ajeitando as pobres chinelas estragadas, visivelmente com frio, saco de plástico vazio na mão direita, armazenando uma tristeza impossível de descrever.
2 comentários:
Adoro estar sentada a ver passar as pessoas, tento adivinhar o que fazem, para onde vao, de onde veem! Um dia pergunto para ver se acertei
obrigada pela maravilhosa descricao de um momento numa cidade cheia deles
Jokas
paula
Obrigado, prosseguirei.
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