05 outubro 2007

Dhlakama roubou a guerra à paz? (1)

"Não há verdade fora do poder nem sem poder" (Michel Foucault)
Já várias vezes aqui tentei analisar certos fenómenos procurando distinguir em mim dois seres: o cidadão e o estudioso do social. Não estou certo de que isso seja possível. Melhor ainda: tenho sérias dúvidas de que isso seja possível. Mas nada custa ensaiar uma vez mais a crença que não tenho tendo.
Qual é o problema para análise? O problema para análise é este: quando o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, não esteve presente na cerimónia oficial realizada ontem em Maputo, quis ele mostrar que não procurava a paz, que os acordos de paz de 1992 assinados em Roma não tinham significado, que a guerra prosseguia, afinal, sob outras formas ou que poderia recomeçar em sua forma clássica? Numa intervenção ontem feita, o ex-presidente da República, Joaquim Chissano, deu a entender que Dhlakama não queria a paz.
No número seguinte procurarei apresentar a minha posição como cidadão. No terceiro número, procurarei analisar o fenómeno como estudioso do social. No primeiro caso preocupar-me-ei com problemas do tipo: procedeu Dhlakama bem? No segundo, com problemas destoutro tipo: que género de luta política está em curso? No primeiro caso estarei a contas com a qualidade da faca; no segundo, apenas com a faca, independentemente dela ser boa ou má, cortante ou não.

6 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Obrigado pelo elo. Mas a informação que procurava encontra-se aqui neste seu texto: o sistema multipardidário é sempre questionado pelas oposições, que não aceitam a legitimidade das forças vencedoras, e estas, por sua vez, controlam abusivamente o poder. É um problema nas democracias africanas: Angola, Guiné, e também Moçambique. O animal homem é muito, muito complicado e, o pior, é que essa «complicação» também começa a instalar-se no Ocidente...

Carlos Serra disse...

Sim, sempre complicado. Aguarde a continuidade da série. Abraço.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O que quero dizer é que a cultura superior está a ser derrotada. Já ninguém quer saber da cultura e da formação cultural: tudo concentrado na «vidinha». Uma tristeza!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Não tenho a proximidade suficiente da vida política moçambicana, que me permita criticá-la e ajudá-lo na sua nobre tarefa.
Embora fora dos meus propósitos iniciais, ando a denunciar a luso-corrupção em 4 frentes: a corrupção é um fenómeno humano que merece mais estudo. Penso que também se aplica a Moçambique: uso e abuso do poder ao serviço das minorias ignorantes... contra tudo e todos.

Carlos Serra disse...

Sugiro-lhe que consulte um dos meus elos aqui, o do CIP (Centro de Integridade Pública), julgo que lá encontrará material interessante para o seu trabalho.

http://www.integridadepublica.org.mz/

E sempre em frente com o seu trabalho!

Salvador Langa disse...

Hummm mano Carlos vamos lá então esperar a ver como você trata titio Afonso.