Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
05 maio 2006
Casal Gates exibe duas crianças negras
O homem mais rico do planeta e fundador da Microsoft, Bill Gates (com uma fortuna calculada em 50.000 milhões de dólares pela revista “Forbes”) e sua esposa, Melinda Gates, posam com duas crianças negras.
O multimilionário americano recebeu o Prémio Príncipe de Astúrias de Cooperação Internacional, por sua “generosidade e filantropia” no combate a doenças como a malária, a sida e outras, especialmente no continente africano (o casal esteve recentemente em Moçambique).
As duas crianças negras parecem troféus nas mãos do casal. Devo ser franco: algo me doeu fortemente no coração.
Veja o site que divulgou a notícia: www.elcorreodigital.com/vizcaya/edicion/periodico/periodico.html
(Obrigado, Cármen, por me teres chamado a atenção para semelhante foto)
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19 comentários:
O seu contributo pessoal para algumas causas sociais, particularmente na área da investigação de novas vacinas contra a malária, tem sido indiscutível. Devo no entanto confessar que o momento fotográfico é de todo infeliz. Espero que não passe disso mesmo, um reflexo de um milésimo de segundo que nos poderá induzir em julgamento premeditado.
Sim,troféus da caridade.
Sonia Dedge
O problema não é ser caridoso, o problema é exibir a caridade à boa moda americana.
Jonas
no comprendo, me enfando, me pone enferma que se comprenda que con una fortuna de 50.000.000.000 de dolares (lo pongo con numeros para que todavía parezca más grande)Bill gates aporta que?.
Es diferente la caridad de esta fundacion a la del ciudadn@ del primer mundo que aporta 10 dolares (o euros) en la maraton que "tal" television organiza con motivo del desastre qu el huracan "cual" ha provocado en honduras? o a favor de los "pobres negritos" que mueren de de hambre en Sudan etc..No es un problema del momento fotografico, no es una reflexion de una milisema de segundo...Es un reparto desigual de la riqueza, pocos tienen mucho (o todo) y además se le premia, se les reconoce por hacer caridad, jamas viviran en las condiciones que los nios que llevan en brazos, como trofeos..o como si oliesen mal..
Espero que se entienda..
Carmen
Que importância teria para a vida se eu desse um saco de arroz para as vítimas da fome em Moçambique?
Jonas
que importancia teria para as vitimas da fome de Moçambique se lhes ignorassem por completo i.é se ninguem lhes desse nada?
Porque chegamos a este ponto?!
Com o fim da guerra fria, todo o planeta transformou-se em terreno de jogo do capitalismo. Comparavel a uma arena, onde so os gladiadores de primeira categoria se afrontam. A Africa tornou-se ainda mais vulneravel face a um capitalismo deste género. Com efeito a Africa enquanto continente situa-se mais na categoria dos “mundialisados” do que dos “mundialisadores”.
Pode-se dizer que nao hà existencia social, sem dinheiro e sem recursos. A existencia social dos individuos depende da économia. Os individuos perdendo o seu trabalho perdem mais do que um emprego. Independemente do motivo da perda: guerras ou catastrofes naturais, etç. O paradoxo é que a “economia” que cria ”excluidos” confia à sociedade o papel principal de lhes reintegrar nao na economia, mas sim na sociedade. Ora, vivemos numa sociedade onde tecido social se decompoem em multiplas sociedades, ou em multiplos compartimentos estanques. Tendo em conta a existencia do Estado, caberia a este ultimo o papel de reduzir as fracturas sociais. Infelizmente, o Estado nao “dà conta do recado”. Entao, é neste emaranhado de impotencias e contradiçoes , que se faz cada vez mais apelo ao “dom”. A procura do “dom” gere a “oferta” . A procura e a oferta do “dom” enquanto soluçao ao problema da exclusao social termina numa organizaçao de organizaçoes caritativas infindaveis. A “caridade” esta de retorno, caridade que Mauss descrevia em 1922 no “ensaio sobre o dom” ... entretanto para mtos daqueles que têm necessidades ainda hoje, nao deixa de ser humilhante “estar sempre de mao estendida”...
Contudo as organizaçoes caritativas modernisaram-se, utilisando os média, para “sensibilisar” e “comover” a opniao publica. O espetaculo de todas as exluçoes (de individuos ou de naçoes devoradas pelo flagelo da pobreza) é exposto pelos média. Desta feita o dom torna-se um facto social interligando um “doador” que “ama a humanidade” e um “destinatario” temporario, que encarna a representaçao da imagem do doador.
O don encontra-se entre duas logicas, nomedamente a logica do mercado e a logica do estado.
Sem duvida que a imagem reproduzida pela foto choca! Mas o que me choca mais é toda a dinamica social, enquanto condiçao de possibilidade para a divulgaçao de tal foto. O que me choca nao é simplesmente o que a imagem mostra, mas sobretudo o que a imagem nao mostra...
Pois, na realidade, para que uma peça de teatro se realize, para alem dos actores sao necessarios tambem os figurantes. Sendo estes ultimos as ferramentas e a mais valia para, o papel dos actores...
Iolanda Aguiar
Funçao dos pobres
Ao longo da idade média , a funçao dos pobres foi defendida em termos religiosos . Segundo Geremek , a formula que se tornou classica é aquela de Santo Elias: “Deus poderia ter criado somente os ricos, mas ele quis criar também os pobres, para que os ricos podessem assim apaziguar os seus pecados”
Indiscutível sua contribuição para causas humanitárias,mas como todo milionário, o faz sob holofotes. Normal, não fosse sua empresa o símbolo perfeito do capitalismo selvagem, que tanto contribui para o aumento da miséria no mundo ao acumular riquezas... Dá como uma mão o que tira com a outra.
No ensejo, manifesto minha admiração pelos teus textos, professor.
“Dá como uma mão o que tira com a outra.”
Estou de acordo consigo qdo diz que a empresa do Bill Gates é o símbolo perfeito do capitalismo selvagem, que tanto contribui para o aumento da miséria no mundo ao acumular riquezas...
Entretanto, com todo o respeito pelos africanos ( e nao só) que desempenham acçoes humanitarias nos bastidores, que nao acumulam a riqueza adquirida em Africa no estrangeiro, enfim com todo o respeito pelos Africanos honestos e dignos, permita-me, estimada senhora,fazer aqui um pequeno exercicio:
É sabido que o contexo de descolonizaçao originou a partir dos anos 60, uma literatura dita estruturalista. A pareceram assim teorias que dizem que as desigualdades entre o norte e o sul sao o produto de uma exploraçao do sul pelo norte. Sem por em causa estas teorias, longe de mim tentar faze-lo, permita-me apenas, levantar aqui uma questao: Sera que estas teorias nao sao tambem, uma maneira de exonerar os Governantes do Sul de suas responsabilidades? Noutros termos o que fazem ou que fizeram os “capitalistas africanos” para minimizar a miséria em Africa?
Certo, o que Bill Gates, dà com uma mao tira com a outra mas ( com todo respeito pelos que nao merecem) grande parte dos “capitalistas” e alguns “politicos” africanos, depositam o dinheiro que ganham em Africa em bancos estrangeiros, particulamente os bancos suiços. Muitas vezes qdo estes politicos deixam de estar nas boas graças dos Países do Norte vêem toda essa riqueza (produzida em Africa) congelada nesses bancos, exemplo o caso do Mobutu.
Ora, se esses Africanos, ainda que fizessem como Bill Gates, dessem e tirassem com uma mao, pelo menos o dinheiro circulava no interior do continente. Nao seria este um principio, talvez, para a minimizar a miséria?
Cordialmente,
Iolanda Aguiar
intentando seguir con el razonamiento de Iolanada, los gobernantes de los paises no desarrollados, son titeres de los paises ricos del norte..tienen sus mismos intereses y sino es así que se atengan a las consecuencias!!! (Cuba, Nicaragua...). Enriquecerse y ser fieles a las normas dictadas por el Banco Mundial y el FMI. Dejar que las multinacionales expolien los recursos y no generen ninguna riqueza (excepto la suya propia). No quiero exonerar de resposabilidad a los gobernantes..solo que creo que la "colonizacion" no ha terminado.
Por otra parte continuando con Gates, resaltar que en el artículo decía: "Para solucionar seu peculiar 'problema', num giro em sua trajetória pessoal marcado pelo pulso por práticas monopolísticas com o Governo de Estados Unidos, Bill Gates se embarcou durante os últimos seis anos numa decisiva revolução do setor da filantropia, ao criar sua própria fundação, dotada com uns fundos de 29.000 milhões de dólares" Que descaro no?..y encima lo premian!!
Carmen
“A Africa transformou-se em exportadora clara de capitais, as saidas de fundo ultrapassam as entradas das ajudas e do investimento estrangeiro (...) no continente negro a “solidariedade” é sobretudo um produto de importaçao”
Smith, S., 2003, Négrologie, pourquoi l’Afrique meurt, Paris, calmann-lévy
Este livro foi alvo de uma grande polemica, no espaço francofone.
Iolanda Aguiar
A proposito da citaçao em "a funçao dos pobres"; aqui vai a ref. biblio:
Geremek Bronislaw (1987), La potence ou la pitié. L'Europe et les pauvres du Moyen Age à nos jours, Paris, Ed. Gallimard
Iolanda
« Tudo se passa, com efeito, como se existisse uma espécie de prescrição tácita interditando formalmente de relacionar directamente a situaçao de Africa ao comportamento dos Africanos”
Axelle Kabou
in « Et si l’Afrique refusait le développement? »
Como entender qual seria a correta medida da ação essencialmente humanitária e desprovida de reverência social para um indivíduo que alcança tamanha proporções de riqueza individual? Dos US$ 50 bilhões ou mais de sua fortuna pessoal, quanto para sociedade é representação de desapego à riqueza e iniciativa filantrópica? Parece-me que nossas interpretações estão vinculadas à presunção de indulgências tão celebradas na idade média.
Odiamos uma situação social de injusta distribuição de renda, onde a concentração das riquezas está em cada vez menos pessoas.
Se esta situação existe, se faz por acreditarmos ou por nos posicionarmos de forma apática e passível frente a essa realidade.
De acordo consigo, Aldemir!
Bom dia Carlos Serra.
Só uma retificação no link para a minha página web: http://acacique.sites.uol.com.br
Abraços,
Aldemir Cacique
Ok, Aldemir,tudo rectificado agora. Apareça sempre!
HONRA AOS EMIGRANTES dos Paises do Sul
Segundo o relatorio do BM a remessa dos emigrantes pode ajudar a combater a pobreza.
No relatorio publicadop ha algumas semanas , o BM constata que nunca os paises em vias de desenvolvimento atrairam tanto capital privados estrangeiro, como em 2005: Emprestimos investimentos, etç tudo no montante de cerca de 384 milhares de euros.
Em seguida veem as receitas dos cerca de 200 milhoes de emigrantes dos paises do Sul. Estes ultimos enviam por ano 20% dos seus rendimentos ao país de origem, isto é cerca 167 milhares de dollares em 2005. O DOBRO DA AJUDA PUBLICA ACORDADADA PELOS PAÍSES RICOS.
Parece que a Luta contra a pobreza é mais do dominio privado. Exemplo a BMG Fodation tem um budget mto superior ao da Unesco. Tony Blair, incitou os paises ricos a cumprirem as suas promessas de ajuda a Africa feitas aquando da cimeira do G8 de Gleneagles. Para se fazer mto bem entender Tony Blair socorreu-se do rokeiro Bob Geldof e adivinhem de quem? nem mais nem menos do que do filantropo B. Gates, para dirigirem o comité "Africa Progress Panel"
Iolanda Aguiar
http://web.worldbank.org/
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