Chama-se Fátima Helena Azevedo de Oliveira, pertence ao Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos (Brasil) e fez publicar na net, em data que não pude apurar, um saboroso texto (fantástico tema escolheu!) com o título "Sabor-saber/A presença político-ideológica na escolha dos termos da culinária moçambicana", aparentemente tema de uma tese defendida em 2003, em grau que ignoro. Confira aqui.
Vou tentar entrar em contacto com a autora.
3 comentários:
A COZINHA MOÇAMBICANA
Redescoberta interessante.
Por mim, opto por me debruçar sobre a cozinha moçambicana. Quanto às considerações colaterias, no essencial poderei estar de acordo com a autora brasileira. A oralidade que, implicitamente, é referida no texto, não é exclusivo da cozinha em Moçambique.
Adiante
No período colonial, existia o livro (quase bíblico) “Coisas Boas”, uma tentativa de moçambicanizar a cozinha portuguesa.
A revitalização do património culinário contra a adulteração daquela cozinha estranha à cultura e aos moçambicanos, foi timidamente ensaiada nos primeiros anos pós independência.
Para além da iniciativa da OMM, muito básica, muito em cima do joelho, importa salientar uma publicação interessante da responsabilidade do Fundo de Turismo
datada de Agosto de 1975 e reeditada em Novembro do mesmo ano( edições da Empresa Moderna) . Refiro-me a “Cozinha Moçambicana”.
Grande parte das receitas divulgadas neste pequeno livro são representativas da verdadeira e genuina cozinha moçambicana.
A mucapata, o mucuane, a mathapa, o tocossado o frango à zambeziana, são alguns dos pratos a que me refiro os quais são subscritos por moçambicanas bem conhecidas na arte de cozinhar.
É impossível falar da cozinha moçambicana, omitindo a colonização e a consequente repressão cultural .
Com base em observações do quotidiano das pessoas, atrevo-me a fazer algumas considerações, de carácter genérico, mas representativas das mazelas culturais produzidas pela presença ideológica anti-popular. Sim, é também disto que se trata, pois a investigação da arte, da música, da cozinha e de outras manifestações da cultura popular é produzida, invariavelmente, por estudiosos oriundos da mesma área ideológica.
Em frente
A divulgação da cozinha tradicional, não se processou da mesma forma em todos as
ex-colónias portuguesas. Aliás, isto, reflecte-se no próprio comportamento dos seus cidadãos.
A cozinha angolana, por exemplo, foi sempre muito divulgada e reconhecida por muitos dos estrangeiros que lá viviam.
A cozinha caboverdeana, rompeu fronteiras e conquistou um prestígio incontornável.
E quanto à cozinha moçambicana?
Vou procurar ser breve pois já vou longe demais. Foi, como referi, deficientemente divulgada pelos próprios moçambicanos. Estranhamente ( ou não), fora do ambiente familiar, tinha-se vergonha de revelar interesse pela cozinha do próprio país.
Recentemente, já se fizeram algumas tentativas para a divulgação da cozinha tradicional moçambicana mas numa lógica de mercado virado para o turismo!
Há um dado indesmentível: com excepção da Zambézia, cozinhar era uma função quase exclusiva das mulheres. Os bons cozinheiros moçambicanos que desenvolviam a sua actividade nos principais hotéis do País não sabiam nada, rigorosamente nada, da cozinha moçambicana.
Não é por acaso que o coco surge na cozinha zambeziana. O mesmo se passa em relação ao amendoim à medida que descemos o território em direcção ao Maputo
É evidente que tudo isto, deve obrigar-nos a uma reflexão mais cuidada. Foi dado o alarme. Que alguém toma a iniciativa. Pessoalmente, terei muito gosto em a acompanhar
Abraço
Obrigado pelo belo comentário, Agry. Sim, já aqui referi o livro da Cozinha Moçambicana. Creio que muitos leitores lerão o que aqui deixou registado.
Ricardo/Paris: infelizmente o email dela não funciona, é o mesmo que usei e que vc recordou. Tentarei outras vias.
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