07 maio 2007

Doutores sem doutoramento


"Somos um país de doutores sem doutoramento e de títulos e diplomas que não correspondem ao nível e qualidade dos conhecimentos do saber fazer."

2 comentários:

Maquiti disse...

Existe um grande interesse no papel (diploma) e nao no saber.

Portanto concordo com o sue ponto de vistae

Anónimo disse...

1. A licenciatura é um grau universitário que prestigia quem com esforço o consegue obter. Assim, entende-se que, POR DEFERÊNCIA, e até tradição, a sociedade trate o licenciado por Dr. Porém, já vejo uma certa PESPORRÊNCIA da parte do licenciado, ou BAJULAÇÃO da parte de subordinados e/ou expectantes de eventuais favores, quando, por escrito, fazem PRECEDER o nome de Dr. Seria bem mais ESCLARECEDOR (e acontece de onde em onde), prosseguir o nome com “Licenciado em _________ “ dando assim a informação da área profissional que o pomposo Dr. não dá.
2. Mas o problema de fundo está no que o Professor realça, no SABER FAZER. A massificação do ensino universitário, num ambiente de tanta CARÊNCIA, designadamente: (i) falta de instalações apropriadas e laboratórios convenientemente apetrechados; (ii) escassez de docentes qualificados e de condições para a pesquisa e investigação, além de magros salários; (iii) escassos meios de consulta bibliográfica para alunos e professores (internet e bibliotecas razoavelmente apetrechadas); (iv) fraca ligação prática entre Universidade /economia real /sociedade. Tudo isto conduz a um ensino alicerçado em apontamentos /Sebentas (tipo secundário), com reflexos negativos na qualificação técnica e científica dos licenciados e inerente dificuldade de inserção no mercado de trabalho, onde os candidatos são cada vez mais submetidos a entrevistas e testes técnicos e psicológicos para avaliação do SABER FAZER e, não menos importantes, do SABER ESTAR.
3. Esta realidade está patente em alguns atritos entre empresários/investidores, quer nacionais quer estrangeiros, e o Ministério do Trabalho. Não basta dizer que temos muitos licenciados nacionais nas áreas A, B ou C, para justificar a não autorização de contratação de expatriados. Quem investe/arrisca a sua poupança, quer colaboradores com perfil técnico e psicológico que se enquadre nas políticas, cultura e objectivos da sua instituição, que saibam fazer e estar: querem conhecimento, confidencialidade, empenho, ambição, criatividade, em suma: aos nossos licenciados (doutores, juniores) sugere-se menos ufanismo, mais profissionalismo.
Um abraço,
Florêncio.

PS:
1. Em regra, do caldeirão da massificação vem ao cimo, destaca-se, a NATA; o resto, a maioria, é vulgaridade. Se o governo não quiser correr o risco de fabricar “fornadas” de desempregados (muitos deles pouco qualificados, mas nem por isso menos reivindicativos), deve ajustar o ensino em geral: básico, secundário, médio e universitário às prioridades das suas políticas de desenvolvimento económico e social, compatibilizando-as, com pragmatismo, com os recursos disponíveis.
2. A expansão da Universidade pública para alguns distritos, com o argumento do PR de que estas serão os embriões, elementos catalizadores do desenvolvimento económico e social nessas áreas (ex: Unango), parece-me merecer mais aprofundado debate. Embora a escassez de quadros seja muita, julgo prudente não descurar um certo equilíbrio no binómio quantidade /qualidade.
3. Ainda sobre doutores: hoje pode fazer-se a licenciatura e de imediato avançar para o mestrado ou doutoramento, sem qualquer aplicação prática dos conhecimentos obtidos com o grau de licenciado, sem passar pelo mundo real. Faz-se a ligação directa, ensino básico doutoramento. São cada vez mais os que chegam a Mestres e Doutores sem terem passado pelo SABER FAZER: a excepção tende a tornar-se regra.
4. Quanto a licenciados, entendo justo realçar a honrosa excepção dos nossos jovens médicos. Para além de mais anos de faculdade, é-lhes imposta uma vivência de dois anos com a dura realidade dos distritos, em condições de trabalho e bem-estar pessoal, em muitos casos, deprimentes.