17 maio 2007

Os desabafos do cabritismo


Na edição online do diário governamental "Notícias" e na mesma página, ficamos a saber hoje que funcionários da Direcção da Educação e Cultura da Cidade de Maputo vendem vagas reservadas aos candidatos a professorado e que "mais de 500 alfabetizadores do distrito de Monapo, na província de Nampula, estão revoltados com os Serviços de Educação, Cultura, Juventude e Tecnologia locais, em consequência do desvio de 291 mil meticais destinados ao pagamento dos seus subsídios."

2 comentários:

Anónimo disse...

Professor,

Quer-me parecer que esta prática de venda de influências para a obtenção de postos de trabalho, o “vender vagas”, está a ganhar cada vez mais campo, talvez mesmo a institucionalizar-se em Moçambique, tanto no sector informal como no formal.

Passou-se comigo o caso que vou contar, que me veio mostrar o quanto por vezes ignoramos o que se passa à nossa volta.

Precisava de um cozinheiro, e a notícia correu pela vizinhança. Apareceu-me uma senhora, também empregada doméstica, a recomendar uma pessoa dita de sua confiança. Aceitei a proposta, e o cozinheiro começou a trabalhar. Mal terminado o primeiro mês, a referida senhora apareceu a exigir dele – que nunca a tinha sequer abordado para pedir que lhe arranjasse emprego e que pouco a conhecia - a “sua parte”. O cozinheiro estava desempregado há algum tempo, tinha outras dívidas por pagar, etc., mas, apesar de todas estas suas alegações para adiar o pagamento da dita “dívida”, teve de a “saldar” de imediato dado o barulho que a outra levantara contra ele e o ambiente que criara entre os outros empregados.

Chocada com tal procedimento da senhora, comentei-o com colegas de trabalho e amigos. Muitos não ficaram nada surpreendidos e disseram-me que era assim mesmo que as coisas agora se passavam. A única crítica que fizeram foi a de que a quantia devia ter sido previamente acordada entre os dois. Disseram-me que muitas vezes é combinada a entrega do primeiro salário na totalidade, mas que podem chegar a ser três, o que pode deixar algumas pessoas endividadas para sempre. Recordaram-me o caso do BIM, que foi tratado nos jornais, e eu, por extensão, pensei no aparelho de estado e no que poderá estar a passar-se por aí.

Acho que este tema seria uma boa matéria de estudo numa perspectiva sociológica. Considero também que a “venda de vagas” no Estado deve estar a merecer mais prevenção.

Fátima Ribeiro

Carlos Serra disse...

Não tenho qualquer dúvida de que daria um belo estudo, do género daquele que Michel Crozier fez em relação à burocracia em frança.