30 maio 2007

Humanos problemáticos e a cultura do depois

Ouvia esta manhã a Rádio Moçambique no seu sempre fascinante noticiário das 6, quando o jornalista Óscar Libombo veio a terreiro com o já clássico "conflito homem/animal". O problema, contou Óscar, é que "animais problemáticos" (sic) estavam a destruir culturas e haveres de camponeses num certo distrito de Cabo Delgado. E assim, uma vez mais, vi-me passageiro da "problemática dos animais problemáticos" (sic, de novo).
Lembrei-me, então, do que entre Junho de 2002 e Maio de 2003 sete leões provocaram pânico generalizado durante vários meses no distrito de Muidumbe, província de Cabo Delgado, com uma população de cerca de 63.000 pessoas. Comeram 46 pessoas e feriram outras seis. Impotentes, habitantes enfurecidos deram então curso à catarse, espécie de rito de purificação social total, linchando 18 dos seus compatriotas, acusados de participarem no comando.Todavia, os principais acusados de comandarem os leões à distância eram pessoas bem distintas: o administrador distrital, os régulos, membros do partido no poder, um comerciante, etc.
Apesar de insistentes apelos distritais à intervenção de caçadores, com papel puxa papel, só um ano depois surgiram dois caçadores enviados de Pemba. Os sete leões foram mortos, o problema acabou.
Não são os animais que são problemáticos: somos nós. O chamado conflito homem/animal é um falso conflito para disfarçar o nosso desmazelo.

1 comentário:

chapa100 disse...

o macaco quando nao sabe dancar, alega que o chao esta torto. diz o ditado popular.