Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
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2 comentários:
Estou em crer que foi daqui que baixei o relatório preliminar esta semana (denuncio assim minha ignorancia sobre como esta tecnologia funciona) e aqui deixo meus comentarios.
1. Gostaria de, antes de mais, congratular aos autores do relatório – Teles Huo e Valerito Pachinuapa – pela pesquisa que estão a realizar. Acho de grande importancia que tenham escolhido uma temática que é de uma actualidade incontestável. Mas é não apenas isso. Ao escolher tematizar o quotidiano podem também contribuir para solidificar no nosso meio o interesse e a pertinencia de uma aborgagem ainda embrionária em Moçambique. Carlos Serra (pioneiro nesse campo no nosso país) e Elísio Macamo já nos deram – nos seus vários e desafiantes trabalhos – mostras da relevância e das potencialidades duma sociologia do quotidiano para a compreensão da nossa sociedade. E penso que a temática dos linchamentos na cidade de Maputo presta-se muito bem a esta abordagem.
2. A meu ver as perguntas de pesquisa que apresentam no início do relatório expõem uma proposta bastante interessante e desafiante de estudo dos linchamentos a partir de uma abordagem do quotidiano, que estimulou meu interesse como pessoa interessada no estudo do quotidiano.
3. Naturalmente, o carácter do relatório, ainda preliminar e sucinto, não oferece espaço suficiente para nutrir toda a curiosidade que a proposta me despertou. Posso bem imaginar que a maior parte dos leitores se interesse mais pelas conclusões. Como estudante de sociologia minha primeira curiosidade e interesse é pela metodologia. E é neste campo que gostaria de fazer outros comentários e compartilhar algumas interrogações.
4. A começar, a questão da pesquisa ao mundo dos linchadores. “Por que razão as pessoas lincham outras pessoas?”, “[...] que sentido é que os linchadores dão à sua prática?” São algumas das perguntas que se colocam. Mas deixam me um pouco perplexo pela forma categórica com que cancelam a possibilidade da seguir a proposta enunciada de pesquisa ao mundo dos linchadores. Quer me parecer que ao declarar que é “impossível diagnosticar os principais actores, impossibilitando a reconstituição dos acontecimentos” cancelam todo um leque de possibilidades de se aproximarem do objecto de estudo e descrever melhor o quotidiano do qual emergem os linchamentos. Não tenho a menor dúvida que esse é um terreno metodoligicamente dificil. No entanto, pergunto-me se não haveria mais a ganhar tomando este problema dessa maneira, como um desafio metodológico.
5. Isso não é um nenhum reparo à perminência da estratégia finalmente adoptada. Penso sim que as entrevistas a funcionários da UEM residentes nos bairros escolhidos é metodologicamente plausível. Mas parece que é uma pesquisa diferente da proposta sugerida pelas instigantes perguntas iniciais. E essa diferença poderia ser passível de reflexão.
6. Sobre a “purificação social”. Este argumento me sugere que o estudo trabalha com o pressuposto de que os linchados são os ladrões. Não está dito assim no relatório. Mas, como disse a tese da “purificação social” sugere essa leitura, tanto mais que não há no relatório uma reflexão sobre os linchados.
Notei porém que um dos entrevistados menciona o risco que ele próprio corre de ser linchado. Basta alguém gritar “ladrão”. Isto sugere-me que a pergunta sobre se os linchados são os ladrões seja, do ponto de vista analítico, pertinente.
Por sua vez, isto levanta a questão sobre se seria apropriado falar em purificação social quando os entrevistados indicam que qualquer um pode ser linchado.
7. Sobre a revolta contra a inseguranca e as desigualdades. Ainda pergunto-me o que é que não percebi no relatório que me pudesse fazer compreender como se passou duma leitura geral da condição periférica e pobre dos moradores dos bairros indicados para a tese de que o linchamento é um canal de expressão dessa condição. Não faltaria aqui ainda reflectir sobre porque e como o linchamento especificamente (e não outras formas) se torna o curso escolhido da acção? O que no quotidiano desses bairros torna o linchamento não apenas uma possibilidade mas uma forma viável de acção? Seria possível saber, por exemplo, como é feita a escolha dos alvos de linchamento?
8. Estas são apenas questões sugeridas por minha leitura do relatório. E está aqui para ser corrigida. Coloco-as primeiro porque isso me ajuda no meu prórpio esforço de perceber o que é que ainda não sabemos sobre este assunto e, também para apreender mais de quem já está a pesquisar o assunto.
Obrigado
Obede Baloi
Obede, obrigado pelo seu comentário. Acabei de ligar para o Teles para que ele e o Valerito leiam o seu comentário.Entretanto, espero ainda hoje colocar aqui no diário o anúnncio do primeiro seminário público da pesquisa a realizar em Julho. Abraço.
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