Não há qualquer tipo de relação humana exterior à(s) relação (ões) de poder.
A evidência empírica mostra-nos que lá onde seres humanos estão em contacto, questões muito simples se põem regularmente, a saber: quem influencia, quem manda, quem induz, quem ganha, quem perde, etc.[1].
Uma vez que não possuímos todos os mesmos interesses, os mesmos recursos e os mesmos trunfos, toda a relação humana é assimétrica, quer dizer, haverá sempre quem tenha mais «poder» do que outrém e, por consequência, mais dividendos. Dada essa assimetria, o conflito é uma parte constitutiva de toda a cooperação[2], uma força de socialização[3] e de orientação por excelência.
Entendo por relação política de poder aquela cujos competidores lutam por assegurar a direcção do Estado[4], quer seja para a manter, quer seja para a obter[5].
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[1]Crozier, Michel, Le phénomène bureaucratique, Essai sur les tendances bureaucratiques des systèmes d'organisation modernes et sur leurs relations en France avec le système social et culturel. Paris: Éditions du Seuil, 1963, p.7; Elias, Norbert, Qu'est-ce que...,op.cit., p.84.
[2]Quivy, Raymond e Campenhoudt, Luc Van, Manual de Investigação em Ciências Sociais. Lisboa: Gradiva, 1992, pp.126-134.
[3]Veja, a propósito, Simmel, Georg, Le conflit. Paris: Circé, 1992, pp. 19, 34.
[4]Este é um conceito extremamente complexo e, na verdade, ambíguo, especialmente nos estudos sobre o político em África. Se ele fosse tomado à letra neste curso, isso significaria que ficaria de fora da análise o que em tantos textos aparece como o pré-estatal, como o «sem Estado», na prática como o «sem político». A famosa dicotomia clastresiana «sociedades sem Estado/sociedades com Estado», da qual nas ciências sociais moçambicanas eu fui um pouco responsável nos anos 8O, é, a esse respeito, emblemática.
[5]Esta é uma definição muito vizinha da de Weber, Max, Le savant et le politique. Paris: Plon, 1959, p.100.
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